terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ANORGASMIA FEMININA: uma leitura sócio-histórica-cultural – II Parte


Acompanhe o post completo através do áudio acima!


Bom dia queridos amigos, leitores, ouvintes e seguidores do nosso blog educação e sexualidade,os abraços de hoje vão para alguns dos novos seguidores do nosso blog, entre eles a Rhayanne, Luanny, Antonio Emilio Darmaso Eredia e para a Helena e aos demais seguidores do blog nosso carinho e gratidão.


O post de hoje traz a segunda parte da temática da anorgasmia feminina a partir de uma leitura sócio-histórica-cultural.


[...] A anorgasmia é considerada como primária quando uma pessoa que nunca chegou a experimentar um orgasmo, ou então secundária, quando a pessoa perde a capacidade de ter orgasmos.


Dentre os fatores que levam a tal quadro (isoladamente ou conjuntos), destaca-se especialmente os aspectos que aqui denominamos de psicossociais. Ou seja, fruto de uma sexualidade culturalmente reprimida, envolta de medos, culpas, muitas mulheres desconhecem seu próprio corpo e não criam maior intimidade com seus parceiros, estas inibições sócio-culturais podem interferir na resposta sexual normal. Falsas crendices, falta de orientação sobre sexo e sexualidade, tabus, dogmas, visão negativa sobre a relação afetivo-sexual dos pais, medo de ser abandonada ou engravidar, urinar; experiências traumáticas como estupro ou abuso, dificuldade de concentração durante a relação sexual, falta de intimidade com o próprio, culpa, ansiedade, depressão, tensão corporal, insatisfação corporal, baixa auto-estima, dificuldades do cotidiano, entre outras estão entre as maiores causas da anorgasmia.
O que nos convoca para a urgente necessidade de dedicarmos atenção à estudos e programas que visem a educação afetivo-sexual para todas as faixas etárias. Educadores, pesquisadores e profissionais da saúde, devem estar unidos, atentos e engajados na busca de uma educação afetivo-sexual emancipatória. Pois, mesmo diante de diversas abordagens sobre as dificuldades sexuais, consideramos de modo particular, que a educação sexual pode ser um método importante tanto na prevenção, como no tratamento das mesmas. Como professora de Biologia, educadora sexual e pesquisadora na área de história e da filosofia, temos condições de abordar mais profundamente os aspectos biológicos e sócio-culturais. Porém, pautando em pesquisas já realizadas e em nossa leitura individual consideramos que aspectos sócio-históricos-culturais  levam aos fatores emocionais e psicológicos, aqui denominados de psicossociais.


Considerando a partir de diversos estudos, que os bloqueios emocionais são as principais causas da anorgasmia. E do pressuposto que, estes bloqueios emocionais podem originar-se da educação repressora a que muitas meninas são submetidas desde a infância, por associarem a sexualidade a uma experiência negativa, pecaminosa, feia ou suja, e não como uma experiência associada à afetividade, ao bem-estar, ao prazer, à boniteza, à vida, a sexualidade torna-se uma vivência que gera vergonha dos genitais, dificuldade de tocar-se, de conhecer seu próprio corpo, e o corpo do outro. Isto ainda soma-se ao medo da  “entrega”, de que ela precisa  “controlar-se”, reprimindo seus desejos. O que nos fundamente a afirmar aqui o imperioso papel dos educadores, pois através da educação sexual, podemos desmitificar tabus e contribuirmos para a formação de uma nova consciência sobre a sexualidade, para que, mesmo há longo prazo possamos amenizar o quadro atual. 
Estamos em 2011, pode parecer absurdo,  mas as marcas da educação sexual repressora, machista patriarcal são tão profundas que a maioria das pessoas ainda não conseguiram superá-las. E não estou falando apenas de teoria não, mas da prática, do chão de sala de aula onde atuo, do chão das ruas onde faço as intervenções sociais, dos relatos que ouço nas palestras das escolas com docentes e alunos (pré-adolescente, adolescentes e jovens), da minha atuação como orientadora educacional.Aliás, na vivência da sexualidade vemos uma dualidade extremista, de um lado ainda pessoas marcadas pela repressão e, de outro fruto visão mercantil e consumista do sexo, a exacerbação, o genitalismo e a banalidade. E assim, continuamos nossa luta, por termos consciência do que vivenciamos e visualizamos na sociedade, que embora para alguns pareça um relato de 1960, é o retrato real da sexualidade de muitas mulheres em pleno século XXI. Temos que lutar juntos por uma educação afetivo-sexual emancipatória, crítica, ética, qualitativa, prazerosa e busque o ponto de equilíbrio entre a repressão e a banalização.


Ainda hoje, muitas mulheres têm dificuldade ou incapacidade de chegar ao orgasmo. Mas a maioria finge o que não sentiu, ou falsamente acredita que a relação sexual se resume ao prazer que foram capazes de sentir. Fruto da imagem histórica negativa do que o sexo representa para a mulher, preconeceito de gênero, homem e do mito do amor romântico que ela aprendeu sobre casamento. E como dissemos e lamentamos, esse quadro assustador não retrata um passado distante. Em pleno século XXI, com toda uma revolução e liberação sexual os números mostram que muitas mulheres ainda trazem marcas profundas da educação sexual patriarcal indicando que grande parte das mulheres tem anorgasmia e inclusive algumas sofrem de vaginismo. Mas sobre o vaginismo tratamos em um outro momento.
 Profa. Dra Cláudia Bonfim
Abraços e até nosso próximo post!


REFERÊNCIAS

BASSON, R; SCHULTZ, W. W. Sexual sequelae of general medical disorders. Lancet. 2007. v.369, p.409-424.

ENGELS, F. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

MESTON, C. M. (et al). Women’s orgasm. Annu Rev Sex Res. 2004. v.15, p.173-257.
REDELMAN, M. A general look at Female Orgasm and Anorgasmia – Sexual Health.
2006. v. 3, p.143-153.

REICH, W. A função do orgasmo. 15 ed. São Paulo: Brasiliense; 1975.
Saadeh A. Disfunção sexual feminina – conceito, diagnóstico e tratamento. In: Abdo C. H. N. (org.). Sexualidade humana e seus transtornos. 2 ed. São Paulo: Lemos Editorial, 2000. p. 53-68.

2 comentários:

  1. Muito informativo e didático.
    sua luta é a luta de toda Brasileira e Brasileiro.
    Prof. Henrique Levy, Ph.D.

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  2. Nossa o seu brog é muito importe para todos principalmente para pessoas que os pais não falam
    disso e nem esclarecem

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