A campanha de sexo seguro
no Carnaval 2012 do Ministério da Saúde pela primeira vez, inclui cartazes com
travestis. Em um dos cartazes, rapaz e
um travesti estão juntos na cidade histórica de Ouro Preto (MG), considerada um
dos carnavais mais animados do Brasil. Em um dos cartazes está assim escrito:
“- Isso rola muito, mas a camisinha não pode faltar.” Esses cartazes só irão
para as ruas no dia 3 de fevereiro, embalado pelo Dia Nacional da Visibilidade
dos Travestis, que se comemora três dias antes. No entanto, como o MS considera
este um público alvo limitado e restrito, os travestis não farão da campanha em
tevês, rádios, jornais e revistas. Apenas em cartazes mesmo. Sem comentar sobre
a inclusão. Eu apenas afirmo que, mais uma vez consolida-se
a visão de carnaval é sinônimo de sexo banal, lamentável! E há que se pensar
que essa “inclusão” no pano de fundo, também acaba de alguma forma por associar
a imagem LGBTT à esse mesmo quadro o que contribui para uma visão estereotipada e preconceituosa (que buscamos combater e superar). É para se pensar! Sobre a temática do
carnaval, sua história e as Campanhas do Ministério da Saúde no Carnaval vale a pena conferir novamente as
entrevistas e posts d blog que tratam sobre a temática.
“O Carnaval tem suas
origens nas festas pagãs da Grécia, ligado ao deleite e aos prazeres. Em Roma,
surge como um movimento contrário aos dias de abstenção da carne, no
Cristianismo da Idade Média. Uma festa com muita comida, bebida e busca
incessante pelo prazer sexual.
No Brasil, inicialmente
trazido pelos portugueses por volta do século XV com o nome de Festa do
Entrudo, introzido, com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em
1808. Era uma espécie de brincadeira onde se jogavam água, ovos, farinha uns
contra os outros, permanecendo assim até
o surgir o confete e a serpentina. Vejam abaixo imagens ilustrativas da chamada
inicialmente Festa do Entrudo (Carnaval).”
(Confira no áudio abaixo na
íntegra a entrevista concedida ao Jornalista Valter Sena sobre a temática)
“Em relação à liberalidade
da vivência da sexualidade na época do carnaval, as pessoas podem questionar
que pelo fato da origem histórica das festas carnavalescas advirem das festas
pagãs da Grécia e da Roma Antiga se configuravam por celebrações que envolviam
muita comida, bebida e a busca incessante sexuais, que então seria natural que
o carnaval nos dias de hoje seja uma festa de apologia ao sexo e aos prazeres
desmedidos em geral.
Mas questiono: na
antiguidade as pessoas não tinham acesso ao conhecimento, não tinham liberdade
para questionar a moral estabelecida. Não tinham acesso à informações ou
orientações sobre a sexualidade. Sequer imaginavam a importância real da
sexualidade para sua vida, e muito menos compreendiam como se dava o
desenvolvimento psicossexual de uma pessoa e o quanto a sexualidade influencia
na nossa identidade humana, em nossos relacionamentos, e nossos sentimentos. E hoje estamos em pleno
século XXI, temos acesso ao conhecimento, temos liberdade ética de escolha,
informações e algumas orientações. E ainda não desenvolvemos uma consciência
ética sobre a vivência livre da nossa sexualidade.”
Como já apontamos inúmeras
vezes, faz-se necessário desenvolver um programa contínuo de conscientizacão
dos jovens e de toda populacão sobre como viver uma sexualidade saudável e não
apenas no aspecto de prevencão de AIDS, DSTs e gravidez não planejada, mas da
saúde emocional das pessoas. Pois, sexualidade não se reduz ao ato sexual.
Almejamos uma política pública voltada às problemáticas sociais que em sua
grande maioria perpassam pelo densenvolvimento psicossexual das pessoas:
pedofilia, violência sexual, crimes sexuais, preconceito de gênero, homofobia.
Ou seja, todo e qualquer relacionamente humano está inserido na educação
afetivo-sexual.
Por isso, REPETIMOS que
consideramos emergencial UMA POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO AFETIVO-SEXUAL QUE
ALÉM DO ENFOQUE MÉDICO-HIGIENISTA-BIOLÓGICO JÁ EXISTENTE E TAMBÉM IMPORTANTE
PASSE A ESCLARECER SOBRE a SEXUALIDADE em sua totalidade. Envolvendo uma equipe
multidisciplinar, ou seja, profissionais da área de saúde: médicos, psicólogos,
e educadores para juntos construírem um programa que realmente contemple a
educação afetivo-sexual em todos os seus aspectos.
Em relação ao fato de
alguns homens se travestirem de mulheres nas festas carnavalescas, embora para
a maioria dos homens seja apenas uma
brincadeira sem fundo de maldade, se analisarmos do ponto de vista que nossa
educação sexual é fruto de uma sociedade machista, patriarcal, isto
inconscientemente pode se caracterizar
como preconceito. Uma forma de homofobia (com brincadeirinhas imitando
homossexuais) e também preconceito de gênero contra a mulher. Um homem ser
chamado de mulherzinha (soa para muitos homens desde a infância como
humilhação), como se a mulher fosse um ser inferior. A violência simbólica dói tanto quanto a
física. E como educadora sexual somos contra todo e qualquer tipo de
discriminação social ou sexual.