terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Carnaval e Sexualidade: uma reflexão sócio-histórica-cultural

Vejam o vídeo acima e tenha acesso na íntegra à nossa reflexão crítica sobre o Carnaval e a Sexualidade Humana a partir de uma leitura sócio-histórica-cultural.

Boa noite meus queridos leitores, ouvintes e seguidores do Blog Educação e Sexualidade eu professora Doutora Cláudia Bonfim hoje vou continuar nossas reflexões sobre Carnaval e Sexualidade  a partir de uma leitura sócio-histórica-cultural pautando no conhecimento cientifico e especialmente buscando esclarecer as seguintes questões:
Com a chegada do Carnaval a mídia é tomada por Campanhas  de combate a DST´s e AIDS, mas até que ponte essas campanhas estilo Liberou Geral contribuem positivamente para um educação afetivo-sexual emancipatória?
E será que historicamente o carnaval sempre esteve ligado à liberalidade da sexualidade?
E  o que é de fato poder  viver uma sexualidade livre?

A vivência da sexualidade diz respeito a cada um, mas essa vivência deve ser uma escolha consciente, responsável, e que não coloque em risco sua saúde física e emocional,  nem das  pessoas com as quais você se relaciona. 

                                            

Curta o Carnaval com alegria, com prazer, mas com responsabilidade, com equilíbrio para que essa alegria do carnaval possa se estender como um bem-estar para sua vida.


Ser verdadeiramente livre, não é continuar sendo mais uma ovelha no rebanho, nem  se deixar levar pela maré, mas ousar construir seu caminho. Então eu termino parafraseando Sartre: primeiro temos que saber o que fizeram de nós, mas isso não basta para sermos livres, mais  importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.

Imagem quantos milhões o governo gasta nestas festas? E que nesta época são disponibilizadas ambulâncias, policiamento, enfermeiros para atender os casos de embriaguez, violência e acidentes causados por alcoolismo e drogas. E o quanto se gasta com a distribuição de preservativos, pílulas do Dia Seguinte, e testes de Aids?
Lamentável! Temos que dissociar a ideia que Carnaval com sexo, álcool, drogas, promiscuidade. A verdadeira alegria é consciente! 
Bem, historicamente, o carnaval tem sua origem a partir das festas pagãs da Grécia antiga como um culto a Dioniso, o deus do vinho e da festa, caracterizava-se como um verdadeiro bacanal de orgias, com muita comida e bebidas incluindo a exaltação do corpo (carne) como princípio da alegria.
Segundo estudos o Carnaval deriva-se como uma rebeldia ao Cristianismo da Idade Média. Surgindo em meados do século XI, devido a Semana Santa da Igreja Católica e como rebeldia aos 40 dias de jejum carnal que marcou então o ínicio de festas de carnaval antecedentes à quarta-feira de Cinzas, que é o primeiro dia da quaresma. Marcando um "adeus à carne" dando origem ao termo "Carnaval".   Ou seja, podemos historicamente constatar que não é de hoje que o "carnaval" está, ligado ao deleite dos prazeres da carne marcado pela expressão "carnis valles", que, acabou por formar a palavra "carnaval", sendo que "carnis" do grego significa carne e "valles" significa prazeres.
Na antiguidade as festas carnavalescas se configuravam por celebrações que envolviam muita bebida, comida, e a busca incessante dos prazeres. A festa durava cerca de sete dias nas ruas, praças e casas da Antiga Roma. Naquela época eram suspensas todas as atividades comerciais e inclusive até os escravos tinham temporariamente liberdade para festejar; Sempre foi uma época em que a moral era deixada de lado. Constituía-se também numa época onde havia troca de presentes entre as pessoas, e havia a escolha de um rei, numa eleição de brincadeira, o qual passava a comandar o cortejo pelas ruas e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia.
Já no período do Renascimento o Carnaval ganhou um formato mais elitizado, com os bailes de máscaras, caríssimas fantasias e os carros alegóricos. E aos poucos perdendo seu caráter de festa popular chegando ao formato atual.
Nos dias de hoje o Carnaval tem um formato moderno,  fruto da época vitoriana do séxilo XIX, com de desfiles onde se gastam milhões e fantasias caríssimas. Paris foi um dos principais exportadores desse modelo de carnaval para o mundo. Inclusive foi inspiração para a festa carnavalesca do Rio de Janeiro, e posteriormente São Paulo, com desfiles de Escolas de Samba. 
No Brasil a etimologia de Carnaval – carrum navalis(carro naval ou carro alegórico) e carne levare (abstenção de carne)  é de origem latina, mas  a expressão do termo que há muito deixou de se constituir o “abre-alas” das famosas marchinhas, brincadeiras engraçadas, exposição de fantasias e personagens semelhantes ou próximos do inusitado “entrudo”, festa do “entrudo”, assim chamado o nosso carnaval brasileiro quando trazido pelos portugueses.
Considerada a maior festa de rua de mundo, hoje, o Carnaval do Salvador está no Guinness Book. Ainda cidades como Recife, Pernambuco, possuem o maior bloco de carnaval do mundo, o chamado Galo da Madrugada.
Durante a época do Carnaval sempre houve grande concentração de festas populares de acordo com as culturas regionais, assim como até hoje ocorre em algumas cidades do nordeste do Brasil. Cada cidade brincava a seu modo, de acordo com seus costumes.
Embora o Carnaval de Salvador não pode de fato ser considerado uma festa popular, se pensarmos no sentido de acesso a todos, pois sabemos que os camarotes e as camisetas para participar efetivamente da festa carnavalesca nos blocos são caríssimas e nada acessíveis à maioria da população brasileira. Virou uma festa mercantil em todos os sentidos materiais e sexuais.
Ai as pessoas podem questionar que então é natural que o carnaval nos dias de hoje seja uma festa de apologia ao sexo e aos prazeres desmedidos em geral. Mas ai eu questiono: na antiguidade as pessoas não tinham acesso ao conhecimento, não tinham liberdade ética para questionar a moral estabelecida. Não tinham qualquer acesso à informações ou orientações sobre a sexualidade. Sequer imaginavam a importância real da sexualidade para sua vida, e muito menos compreendiam como se dava o desenvolvimento psicossexual de uma pessoa e o quanto a sexualidade influencia na nossa identidade humana, em nossos relacionamentos, em nossos sentimentos. Não questionavam sobre os costumes sociais. E hoje estamos em pleno século XXI, temos acesso a todo esse conhecimento, temos liberdade de escolha, informações e orientações. E ainda não desenvolvemos uma consciência ética sobre a vivência da nossa sexualidade. E há muito tempo temos acesso a informações biológicas sobre a sexualidade e a maioria das pessoas ainda se relacionam sexualmente sem qualquer responsabilidade ética e afetiva consigo mesmo e com o outro. 



Carnaval e Sexualidade: Mulheres serão o foco da Campanha de Combate a AIDS e DST´s no Carnaval 2011 - mas até que ponto essas campanhas educam?

Ouça o post na íntegra pelo áudio acima!
Os dados do Ministério da Saúde, apontam que 87% das mulheres que vivem com HIV/AIDS se infectaram através da relação sexual, sendo que, 83% delas têm idade entre 20 e 49 anos. E na faixa etária dos 13 aos 19 anos, há maior infeçção entre as mulheres (10 mulheres para cada seis homens infectados). E acreditam que "até o momento, a informação correta e o uso do preservativo é a melhor forma der infecção pelo HIV."

 VOLTO A DIZER: NÃO BASTA DISTRIBUIR CAMISINHA OU INFORMAR SOBRE COMO USAR O PRESERVATIVO. PRECISAMOS PROMOVER ESPAÇOS DE REFLEXÃO QUE VISEM  CONSCIENTIZAR, ORIENTAR. PRECISAMOS URGENTE DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO AFETIVO-SEXUAL!

."Mulheres entre 15 e 24 anos serão o foco da campanha de combate às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) no Carnaval 2011. "A recomendação do Ministério da Saúde é orientar as mulheres para que, após o ato sexual sem o uso de preservativo, procurem realizar diagnóstico para detectar uma possível contaminação de HIV, sífilis ou hepatite".
Fico indignada como o carnaval tornou-se uma época de sexo quantitativo  em que  o governo distribui milhões de preservativos en todo Brasil, como se as problemáticas da sexualidade se reduzissem apenas à prevenção de Aids, DST´s e gravidez não planejada. Como se a sexualidade se resumisse ao sexo, como se isto fosse o principal da educação sexual . Temos que distribuir preservativos sim! Temos que usar preservativo SEMPRE.  Mas apenas isto não basta para consideramos como educação sexual.
 CONVOCO E INSISTO QUE A EDUCAÇÃO AFETIVO-SEXUAL É NECESSÁRIA NA FAMÍLIA, NA ESCOLA EM TODOS OS ESPAÇOS, MAS UMA EDUCAÇÃO SEXUAL EMANCIPATÓRIA, NÃO UMA EDUCAÇÃO SEXUAL QUE APENAS DISTRIBUA PRESERVATIVOS, E QUE TRATE DO LADO NEGATIVO DA SEXUALIDADE (doenças).


Será que as pessoas que são responsáveis por essas campanhas conhecem a história da sexualidade humana? Será que sabem de fato definir Sexualidade?  Será que sabem a importância e como se dá o desenvolvimento psicossexual do ser humano?
 Claro, acreditamos que a Educação Sexual, é também uma maneira eficaz para combater doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), gravidez precoce, e este é um dos seus papéis, mas Educação Afetivo-Sexual significa especialmente uma possibilidade de quebra de tabus e preconceitos, de conscientização, de aquisição de uma ética sexual para a vivência de uma sexualidade prazerosa, qualitativa, afetiva, significativa e emancipatória.
E distribui-se preservativos e acredita-se que isto basta para prevenir doenças e DST´s. Me revoltam algumas campanhas reducionistas, que contribuem no âmbito da saúde (o que não deixa de ser importante), mas não dão conta da complexidade e  da amplitude sexualidade. E que não contribuem de fato para reflexões sobre a vivência da sexualidade nos dias de hoje. 
 Ótimo que, de certo modo, pelo menos as pessoas terão acesso aos preservativos, mas nós que atuamos como educadores sexuais nas escolas e na sociedade sabemos pelos relatos que ouvimos que a maioria dos jovens e  adultos não usam preservativo. Não por falta de acesso mas de consciência mesmo! Portanto, falta EDUCAÇÃO, ORIENTAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO! A distribuição de preservativos é uma medida que pode ajudar mas são paliativas.


Faz-se necessário desenvolver um programa contínuo de conscientizacão dos jovens e de toda populacão sobre como viver uma sexualidade saudável e não apenas no aspecto de prevencão de DSTs, mas da saúde emocional das pessoas.

É urgente um programa de educacão afetivo-sexual emancipatória que busque superar essa visão reducionista da sexualidade. Almejamos uma política pública voltada às problemáticas sociais que em sua grande maioria perpassam pelo densenvolvimento psicossexual das pessoas: pedofilia, violência sexual, crimes sexuais, preconceito de gênero, homofobia. Ou seja, todo e qualquer relacionamente humano está inserido na educação afetivo-sexual.
 Se informações sobre métodos anticonceptivos, e uso de preservativos ou sobre saúde sexual reprodutiva fossem suficientes não teríamos como apontam os dados do próprio Ministério da Saúde os altos indíces de DST´s e gravidez não planejada. Informações biológicas e higienistas como estas existem há muito tempo nas escolas e na sociedade, e embora sejam também necessárias, são insuficientes. Será que ainda todos as problemáticas sociais referentes a sexualidade, manchetes diariamente em jornais, Rádios, TV, Internet e revistas, ainda não levou nossos governantes a  entenderem que só questões abordar questões médicas, higienistas, nunca foram suficientes para EDUCAR, CONSCIENTIZAR. São preventivas e informativas no âmbito da saúde e nem disso deram conta. Porque se dessem conta as pessoas já usariam preservativos. Informar é muito diferente de Educar, Orientar e levar a formação de consciências críticas.
 Apesar dos “avanços ideológicos”, faltam atitude. Repito: existe uma grande diferença entre informar e educar (orientar). Creio que a Educação Sexual é um processo educativo que possibilita não apenas o conhecimento biológico, mas a formação de valores e atitudes referentes à forma como vivemos nossa sexualidade. Nesse viés, consideramos que a Educação Sexual pode contribuir, entre outros fatores, para a diminuição dos índices de gravidez na adolescência, a redução da transmissão entre os jovens de DSTs, mas a partir do momento que tornar o jovem conhecedor do que representa a sexualidade humana para si próprio e no contexto da sociedade brasileira.

A Educação Afetivo-Sexual visa esclarecer sobre os tabus e preconceitos existentes na sociedade, promovendo a afetividade, a consciência corporal, o respeito pela liberdade de expressão, de orientação sexual, abrindo espaço para se discutir conceitos e problemas da adolescência, namoro, sexo seguro, gravidez, aborto, orientação sexual, abusos sexuais, violência, responsabilidade, maturidade, e para falar de afetividade, desejo, prazer.
 Mesmo com os “avanços” da liberdade sexual, é possível constatar que a família ainda não privilegia um diálogo sobre sexualidade ou este é pobre ou inexistente,; e mesmo nas escolas, o debate é tímido e ocorre voltado para os aspectos biológicos; a escola ainda continua no foco reprodutivo e preventivo como já constatei na tese os educadores, como também os profissionais da saúde, parecem permanecer com posturas impregnadas de preconceitos e tabus, talvez por também não possuírem um embasamento histórico e teórico aprofundado sobre o tema em questão.


Precisamos gerar inquietações e provocar reflexões dialógicas críticas  que possam contribuir para o alcance da melhor maneira de como lidar com a sexualidade em termos de troca de afeto e prazer. E isto implica numa educação afetivo-sexual de todos nós: educadores, pais, adolescentes. Pois, o desenvolvimento psicossexual se dá nas interações, afetos e desafetos das pessoas com as quais convive, especialmente na infância. Lamentavalmente, a educação sexual que temos está longe da que queremos ter, pois esta deve  conciliar as abordagens biológica, médica, psíquica, política, histórica, social, cultural, conforme se almeja.
 Falar da parte operacional e biológica da sexualidade é um primeiro passo, mas não o único caminho. Temos que ir além, educar e produzir reflexões que levem os jovens formar uma consciência ética sobre sua sexualidade, e isto requer mais que técnicas, métodos, ou posições sexuais. Requer uma educação afetivo-sexual que realmente vise a busca da compreensão de si mesmo, e da beleza e da importância da sexualidade para o desenvolvimento e o relacionamento humano em todas as suas vertentes. Para nossa humanização e respeito consigo mesmo e com o outro.

É emergencial UMA POLÍTICA SEXUAL SOCIAL QUE ALÉM DESSE ENFOQUE MÉDICO-HIGIENISTA-BIOLÓGICO atenda a SEXUALIDADE em sua totalidade.
Pesquisei na internet diversos slogans e folders de carnaval e fica claro que parece que no carnaval sexo com camisinha está liberado e de certa forma é aceito e estimulado socialmente. Me pergunto até que ponto estas campanhas de fato educam? Reflitam! Vejam as imagens abaixo.
















Imagens da Internet 

2 comentários:

  1. Estimada Dra. Cláudia Bonfim,

    Está muito informativa - creio conter temas a serem desenvolvidos nas próximas semanas.

    Ganharemos mais audiência quando o texto passar pelo "enxugamento" de um editor ou revisor competente e sensível. Está denso, erudito para a maioria, contém repetições que podem ser eliminadas com sucesso.

    A sua ênfase em "educação afetivo-sexual" é fundamental. Mexe com todos os valores da nossa sociedade, na cultura da ignorância que pervade nossa população, independentemente de renda.

    O enfoque médico no Ministério da Saúde traz o valor do a posteriori, quando precisamos de prevenção. O médico, no Brasil, "cura" a doença (quando cura). Nós queremos prevenir - prevenir DST, prevenir violência, prevenir "coisificação" do relacionamento sexual.

    Apóio integralmente seu enfoque na "qualidade" do relacionamento - abolindo-se o consumo de bens sexuais. Em seu lugar, "Mens Sana in Corpore Sano" - uma mente sadia num corpo sadio. A quantificação dos prazeres eróticos seria aposentada por uma qualificação, conhecida comumente como "Sexo com Amor".

    Os temas suscitados pedem-me mais aprofundamento. Por isto, vou meditar a respeito.

    Atenciosamente,

    Henrique Levy, Ph.D.

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  2. Obrigada Dr. Henrique Levy, Ph.D. Que como sempre traz riquíssimas contribuições ao nosso espaço. E grata também ao Prof. José Carlos, pelas palavras, seja bem-vindo. Que bom encontrar mais pessoas do caminho do bem neste espaço. E também já visitei o teu caminho e acabo de me tornar seguidora de seu blog. Passem sempre por aqui e deixem suas sempre valiosas contribuições, pois isso me motiva a continuar nossa luta por uma educação afetivo-sexual emancipatória.

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