sábado, 2 de outubro de 2010

A Educação e Formação Política do Cidadão


Às vésperas das eleições um educador não pode deixar de posicionar. Sendo assim, resolvi publicar aqui hoje um artigo que publiquei em 2004, no Jornal A CIDADE, de Cornélio Procópio, atentem-se que mesmo sendo um artigo de 6 anos atrás ainda nos deparamos com a mesma situação política e social do País. Lamentável. Vale a pena ler e refletir.

Interessantes são as contradições da vida, ainda que tardiamente, aprendi não pela tradição, mas pela contradição, a encantar-me pela Política (Politikós). A paixão surgiu através de meus mestres, da leitura em especial de Aristóteles (Política); releio os textos e livros sobre o tema e admiro a combinação de poder, força e coletividade; à luz da literatura, da filosofia, da história, do berço grego. Mas, essa paixão foi se consolidar mesmo em nossa luta pela educação, na prática educativa, na busca de apoio político pelas causas que acreditamos. Nosso olhar a partir da filosofia (philos) vem contemplar o misterioso desafio dessa arte que seduz e afasta, mas que é plenamente necessária para a convivência social. Ao lermos Maquiavel (O Príncipe), enxergamos muitos de nossos políticos, mascarados de “bons”. Hoje nosso olhar se lança sobre a Política assumindo uma fulguração inquietante, condenando e venerando, como uma trama complexa, uma “guerra”, um jogo de interesses; para alguns um deleite, para outros poder, glória (kléos), para alguns repulsa, indignação, mas felizmente para alguns raros políticos estar na Política significa a possibilidade de mudança, de um sonho que se concretiza, simboliza a vontade de fazer acontecer, de melhorar as condições de vida de nossa população. O “político” é, historicamente, pode-se dizer, um artesão de palavras, “seduzindo” através das mesmas; lamentavelmente, quase sempre, esses discursos não saem do coração, são meras falácias. O palco da atuação discursiva é a sociedade, que confia, espera e projeta sonhos, coloca seu destino nas mãos de poucos, acentuando a força destes. Grande parte da população fica indignada com a atuação dos governantes, mas se conforma, se cala. Há aqueles, como eu, que ousam romper o pensamento e tentam traduzir em palavras o enigma dessa arte que é a Política, que estamos tentando entender, e isto temos que fazer, na luz da história, buscando nas condições objetivas e materiais a ponta do fio que tece essa trama tão necessária. Devemos salientar que todos os cidadãos deviam ser apaixonados por essa arte, pois sem Política não há uma organização social, temos sim que admirá-la, mas sempre com um olhar crítico, e envolver-se, manifestar-se, assumir que somos seres políticos, pois, se não tentarmos mudar esse quadro de descaso, de concentração de poder, de interesses elitistas, para uma política que privilegie a coletividade, o bem comum, estaremos lavando as mãos e entregando a vitória sem luta. Não há como fugir da atividade política, pois viver em sociedade requer uma organização política, ela tem origem e se desenvolve com a dinamicidade da própria história. A política é uma gestão de interesses, estando diretamente relacionada com o poder. Se faz presente em nosso cotidiano, quando emitimos opiniões, defendemos uma causa, seja na escola, no trabalho, em casa, na igreja, ou associação. Votar é um dos maiores atos políticos do cidadão. Em nossa concepção a educação deve ser comprometida especialmente com a formação política.  Tal necessidade aponta para a questão ética, no que se refere a procedimentos, condutas e aos valores embutidos pelos governantes em diferentes momentos históricos. Se retrocedermos na história do Brasil, ao período obscuro da ditadura militar, verificamos a influência da educação na formação política do povo. Com o golpe de 1964 e a ideologia de “Segurança Nacional”, foi criada a disciplina de “Educação Moral e Cívica”, com o intuito de estimular as questões de ordem, civismo e obediência, tentando impedir que as pessoas manifestassem os seus ideais de liberdade e democracia. Em 1970 os setores de propaganda da ditadura lançam os "slogans" "Pra frente Brasil" e "Brasil: Ame-o ou Deixe-o", tentando reproduzir e inculcar os “valores ditatoriais”, através do controle das consciências de massa. Como falar de educação sem falar de política? De acordo com FÁVERO (1991):”A sociedade civil e a sociedade política se confundem numa única dialética, pois, o exercício hegemônico da classe dominante supõe o uso conjugado e combinado do consenso e coerção. A estreiteza dessa relação pode ser evidenciada por vários fatores, como por exemplo, o monopólio estatal dos meios de comunicação, o processo de estatização do ensino, etc. São elementos que constituem fatores de hegemonia, vinculando governantes e governados.” Buscando superar a concepção imposta, consideramos a necessidade de um sistema educativo que proporcione um debate crítico tendo em vista a construção de uma nova ética e uma nova política. Diante das campanhas eleitorais nos defrontamos com a falta de discernimento e de espírito crítico de grande parte da população, o que geralmente, pode-se observar, é que as contribuições dadas pelos governantes são vistas como se estes estivessem realizando uma obra beneficente, cada obra nova realizada é festejada, e os governantes são destacados por isto, mas não é mérito, é obrigação! É claro que, esta visão decorre das ideologias implantadas historicamente, como forma exatamente de que não haja opositores, de camuflar seus reais objetivos políticos. Os atendimentos prestados ao público não são gratuitos, a população paga impostos, produz o crescimento do país, é parte integrante da nação, portanto, os ganhos obtidos devem obrigatoriamente ser revertidos em benefício da melhoria da sociedade e garantir seus direitos primordiais, especialmente, um sistema de saúde eficiente e uma educação de qualidade; setores que infelizmente, foram deixados de lado pelos governantes. Com o aumento do número de atendimentos, a qualidade foi diminuindo. Aliás, uma educação de qualidade é o maior investimento que o país pode fazer, visando uma sociedade participativa e igualitária. O voto deve ser consciente, é uma forma de resistência para ao menos suscitar mudanças. O que não podemos é continuar aceitando favores em troca de votos e entregar o poder para governantes que não lutam pelos interesses do povo, mas privilegiam interesses particulares e partidários. Não podemos mais conviver com descaso e precariedade, nem aceitar remendos sociais, como cestas básicas, salário educação, que apenas mascaram os problemas e não os resolvem. Precisamos de oportunidade de trabalho, para regatarmos nossa dignidade. Não queremos apenas sobreviver, mas viver uma vida de qualidade, com acesso à educação, saúde, ao lazer e à cultura. Espero que a população entenda a importância de votar conscientemente em alguém que ao menos esteja disposto a lutar para transformar esse mundo num lugar melhor, não podemos mais conviver com políticos profissionais que fazem da política uma vaidade pessoal, uma forma de garantir, hierarquizar e perpetuar o poder entre a classe dominante. Viver numa sociedade democrática não implica apenas em eleger os governamentes, apenas o voto não é garantia de cidadania, nem de democracia, para vivermos numa sociedade realmente democrática, o que determina a Constituição Federal deveria ser respeito, democracia é sinônimo de igualdade e garantia de uma educação de qualidade para todos, assim como assistência de saúde e acesso a bens e serviços. Vote consciente! A população precisa urgentemente deixar de ser neutra e ir à luta. O momento atual traz consigo a carência de uma identidade política, a alienação ainda vigora... Precisamos de uma política que contemple a educação e saúde, incluindo um política pública que contemple um projeto de educação sexual emancipatório que vá além da prevenção, mas que de fato, forme consciências críticas e éticas. A população não pode continuar pagando para manter as regalias da elite hegemônica. Almejamos uma ressignificação da política que retome sua etimologia politikós (polis + ética) que vise realmente a busca de melhorias para a comunidade, a defesa dos direitos da população, da igualdade social e de uma nossa sociedade possa realmente privilegiar a promoção humana e o bem-estar social. Enquanto isso, assistimos a um cenário de pobreza e milhões de desempregados que infelizmente se humilham diariamente pelo direito de ter um vida digna, construída com seu trabalho. Precisamos urgentemente de projetos que contemplem a criação de novos empregos. E para mudar essa realidade política concordamos com Paulo Freire quando diz que: “A educação não é a chave única de abertura da porta da transformação social-política da sociedade, mas sem ela nada se faz. Essa complementação do meu discurso é fundamental para mostrar exatamente a relação dialética entre educação e transformação. Se ela sozinha não faz, é porque ela precisa contar com outras dimensões da organização política do Estado e da sociedade. Ela precisa de partidos políticos sérios, fortes, democráticos, respeitosos. Ela precisa, de um lado, de estimular e, de outro, ver crescer a eticidade da política e na política. Ela precisa do desenvolvimento econômico. Sozinha ela não produz esse desenvolvimento, mas, sem ela, ele não se faz.”

 Mesmo assim a gente acredita que a “vida deveria ser bem melhor, e será” precisamos resistir e insistir em proclamar que a vida é “bonita, é bonita e, é bonita!”. É mister que tenhamos consciência de que educação é essencial para a formação política do cidadão.

Autora Profa. Dra. Cláudia Bonfim -  Artigo Publicado no Jornal A CIDADE de Cornélio Procópio em 25/agosto/04

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