quarta-feira, 25 de maio de 2016

Memórias sobre o envelhecer de meu Pai


Envelhecer. Já pararam pra pensar na beleza dessa possibilidade? Nem todas as pessoas conseguem atingir a plenitude e a maturidade da terceira idade, muito menos aprender a ser mais cuidadoso consigo, com o outro(a), a encarar o envelhecimento como o privilégio de crescimento, de enriquecimento, de poder desfrutar da vida em seus diversos momentos.
Envelhecer deveria ser olhado como um presente, são tantos laços que no decorrer dos anos vão enfeitando a vida da gente, são tantas dores superadas, tantas vitórias conquistadas, tantos amores vividos, tantos afetos divididos. Mas numa sociedade que prioriza o momentâneo, o “belo”, a vitalidade física, descarta-se a velhice, desconsidera-se o valor da história que foi construída para aquela e tantas outras (suas e nossas) vidas. É tão dolorido ver esse olhar de descaso às pessoas que tanto fizeram por esse mundo, por nós.
Eu tive o prazer de ver meu pai envelhecer, não tanto quanto gostaria, mas Deus nos deu a oportunidade poder ajudar a cuidar dele na sua convalescença, de poder ouvir suas histórias, garimpar suas memórias, dividir suas dores, seus valores, suas alegrias, seu amor pela família, seus aprendizados. Mas isto, só me fez ver, mais claramente, o quanto grande parte das pessoas não tem esse comprometimento, nem essa gratidão por aqueles que lhe ajudaram de alguma forma a ser quem eles são.
Foi árdua a luta de meu pai, assim como foram intensas todas as suas alegrias. Isso me fez a pensar nas tantas pessoas que abandonam seus pais, que não se importam com eles na velhice, quando eles invertem suas necessidades, quando deixam de ser úteis e passam a ter que ser cuidados, quando necessitam de um olhar mais atento, de delicadezas mais apuradas para suas dores, seus esquecimentos, seus temores. Como eu gostaria de poder tocar no coração das pessoas que ainda não reconheceram a beleza de ter com elas seus pais, de olhá-los com mais amor, de dedicar à eles mais tempo, mais cuidados.
Olhando no tempo, parece que foi ontem que eu era só uma menina, parecia distante a possibilidade de que a vida me roubasse a possibilidade de suas presenças físicas, mas o tempo é muito mais veloz do que podemos imaginar e, quando se vê, lá se foram... e fica aqui, só uma infinita saudade que não cessa, não diminui, só aumenta. Mas, quando a eles nos dedicamos fica também a consciência tranquila de que abdicamos de nós por eles, como eles por nós o fizeram, fica a intensidade do amor, do convívio, dos olhares, da humanidade que eles ajudaram a construir dentro de nós. 
Se você ainda tem um pai, lembra-te todos os dias de dedicar à ele seu amor, seu carinho, sua atenção, como se fosse este seu último dia. Entenda o envelhecer como a lapidação da jóia mais preciosa que alguém pode ter: a vida! E aproveite cada momento desse privilegiado envelhecimento para aprender a amar, porque de tudo que conquistamos nesse breve existência, a única coisa que nos eterniza é a memória de quem nos ama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você também pode gostar de:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...