sexta-feira, 1 de maio de 2015

Reportagem da Revista Época para a qual concedi entrevista sobre Erotização Infantil

Reportagem da Revista Época, publicada hoje, para a qual concedi entrevista também nesta semana. 

Link da entrevista:  http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/05/estou-sendo-vitima-do-preconceito-contra-o-funk-diz-pai-de-mc-melody.html
Como só publicam um trecho das entrevistas, socializo abaixo, na íntegra, minha fala:  
“Não há como alienar nossos filhos, ainda mais num mundo tecnológico. Não se pode tolher as crianças e adolescentes de ter acesso à algumas informações e conteúdos numa sociedade em constante transformação, nem negar o contexto onde vivem, porém, há que se esclarecer as significações do que ocorre nos contextos que estão inseridas, os pais devem dialogar com seus filhos abertamente e os ajudar a desenvolver seus valores éticos e estéticos. Explicar que há idade, momentos, experiências e coisas que são vividas em cada fase da vida, pois há coisas e decisões que exigem responsabilidade. Tem espaços que não são para que crianças frequentarem, tem práticas que exigem responsabilidade e discernimento para serem vivenciadas. O que não se pode é fechar os olhos e considerar natural ou normal fatos que são inaceitáveis. A questão passa longe de omitir, ocultar ou negar o acesso à informações, pelo contrário, deixar de esclarecer as dúvidas da criança sobre todos os temas e especialmente sobre sexualidade e sobre os cuidados em relação à sua vivência. Isso seria deixar de oportunizar que a criança desenvolva o auto cuidado e o respeito por si mesma, por seu corpo e o corpo do outro. Deixar de dialogar resulta em conflitos internos tão graves quando estimular isso precocemente. Não podemos ser pais ou omissos, mas também não podemos ser pais permissivos. Mas, repito: não podemos considerar normal uma criança ser-estar nesta fase erotizada, sensualizada e sexualizada. A infância precisa ter os seus limites e vivências relativas à idade. Nós não podemos tolher e nem devemos, mas também, NÃO PODEMOS ESTIMULAR A CRIANÇA A VIVER EXPERIÊNCIAS INADEQUADAS Á SUA IDADE e que possam prejudicar e antecipar seu desenvolvimento. Muitos pais, equivocadamente, pensam que quanto menos a criança e ou adolescente tiver acesso informações sobre sexualidade e sobre sexo, menor seria a chance deles iniciarem precocemente sua sexualidade. Ledo engano. A sexualidade é inerente ao ser humano desde que nascemos, e irá se desenvolver quer queira ou não. O que devemos ressaltar é que, não devemos acelerar esse processo, mas respeitá-lo. Só se deve falar de sexualidade com a criança a partir de suas curiosidades e necessidades individuais, que varia, de acordo com cada um e com suas vivências familiares, ambientais, sociais, etc. Não podemos expor a criança a cenas sexuais e contextos sexualizados (filmes eróticos, sexo, imagens eróticas, bailes funks), isso seria violentar moralmente a criança, induzindo à sexualidade precoce. Assim, como quando vestimos uma menina com a roupa sensual de uma mulher adulta, estamos também violentando moralmente e expondo essa criança inconscientemente a sofrer um assédio sexual. Porém, devemos entender que as crianças e adolescentes precisam aprender a lidar não só com os conflitos emocionais como com sua sexualidade de maneira geral e inclusive identificar um abuso sexual para saber identificá-lo e contar aos pais. Não importa a cultura que está inserida, os direitos humanos, a dignidade da criança e seu desenvolvimento precisa necessariamente ser preservado e respeitado. A erotização precoce da criança, a sexualização, a sensualização dos corpos é inaceitável para crianças. Jamais, uma criança, mesmo convivendo em meio ao funk, teria a consciência da dimensão do que esta exposição representa. Temos que dizer NÃO à erotização e à exploração infantil, pois isto implica em prejuízos psicológicos graves à essas crianças e adolescentes. A infância tem sido cada dia mais curta. Rompida negativamente por uma erotização e sexualização precoce da criança. Nós não podemos considerar esses comportamentos normais, isto seria relativizar o erotismo infantil. Não podemos achar normal uma criança se inserir numa contexto de sexualização onde os comportamentos e linguagens são inadequados à idade. O estímulo à sexualização nesta idade trará prejuízos psicológicos imediatos e futuros à vivência da sexualidade dessa criança e adolescentes e os expõe à abusos sexuais, à violência e à exploração. Não podemos antecipar fases. Uma criança erotizada precocemente na infância poderá lidar com questões sexuais de maneira precipitada, exacerbada e desumanizada. Faz-se necessário que pais e educadores compreendam que os paradigmas da sexualidade mudaram, e em muitos aspectos se tornaram precoces e exacerbados nas últimas décadas. A erotização precoce da criança pode induzir à vivência da sexualidade de maneira banal, vulgar, que induzem à um visão reducionista, distorcida, genitalista e quantitativa da sexualidade.” (Cláudia Bonfim) 
          

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