Concedemos uma entrevista sobre Voyeurismo para a Jornalista Heloísa Noronha do Uol Mulher. Segue o link da matéria final produzida pela jornalista para que vocês possam conferir: http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2015/04/07/voyeurismo-nao-e-so-curiosidade-sobre-a-intimidade-alheia.htm
Mas ainda assim, penso que seria interessante socializar com vocês a pauta completa da entrevista, pois publica-se apenas alguns trechos do que foi respondido, visto que se consultam diversos pesquisadores.
PAUTA UOL MULHER
CLÁUDIA BONFIM – Doutora em Educação, Educadora
Sexual, Sexóloga e Pesquisadora do Grupo Paideia Unicamp, Docente da Faculdade
Dom Bosco, Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e
Sexualidade do Programa de Educação Tutorial do Ministério da Educação, Autora
do livro “Desnudando a Educação Sexual” (Papirus Editora).
- O que caracteriza o voyeurismo?
É uma prática fetichista que consiste em observar outras pessoas nuas ou praticando ato sexual, quase sempre sem
que as outras pessoas saibam que estão sendo observadas. É também, uma forma de
realizar os próprios desejos através de outras pessoas. É importante ressaltar
que, em geral, o voyeur é uma pessoa inibida, que não tem coragem ou apresenta
dificuldades de realizar suas próprias fantasias, sendo assim, busca satisfazê-las projetando-se nas outras
pessoas.
- A pessoa pode atingir o orgasmo praticando? A
masturbação sempre faz parte?
Sim, na maioria das vezes, o voyer pode
atingir o orgasmo, e quase sempre porque
ele se masturba enquanto observa as outras pessoas.
- Trata-se de uma parafilia, uma perversão ou um
distúrbio sexual?
O
voyeurismo é um fetiche, Em psicologia, o fetichismo só é considerado como uma parafilia quando este passa a ser a única
forma de satisfação plena e de busca do prazer. O objeto do fetiche é a
representação simbólica de penetração, tem conotação sexual, é um objeto
parcial e não representa quem está por trás do objeto. Esclarecendo que uma Parafilia
pode ser conceituada como um padrão de comportamento sexual no qual, em geral,
a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas em alguma outra
atividade. São considerados também parafilias os padrões de comportamento em
que o desvio se dá não no ato, mas no objeto do desejo sexual. Como parte de integrante das fantasias
sexuais, o voyeurismo é saudável porque é uma forma de alimentar o desejo
sexual de seus praticantes. Apenas em determinadas situações, o comportamento
sexual parafílico pode ser considerado perversão ou anormalidade. O simples fato de sentirem prazer ao olhar alguém assim não deve ser considerado distúrbio, desde que, isso não se caracterize
como a única forma de excitar-se e de atingir o prazer sexual orgástico. A grande questão é que, como no mundo da fantasia o
voyeur “faz” tudo que deseja, muitas vezes, a prática do ato sexual real já não
lhe satisfaz e deixa de ser praticada.
- Quem é mais voyeur: homem ou mulher? Ou cada um
tem um modo diferente de ser?
O homem culturalmente é mais estimulado a ser um voyeur,
enquanto as mulheres historicamente foram sexualmente reprimidas em todos os
sentidos. Um exemplo de que o homem culturalmente ou biologicamente é
sexualmente mais visual são as revistas eróticas e filmes pornográficos.
Revistas de mulheres nuas vendem em sua maioria para homens e revistas de
homens nus, vendem em geral para gays. Isso não significa que a mulher não
goste, ou seja menos voyeur, as mulheres precisam ainda aprender
e se permitirem a sentir mais prazer
através olhar. Não há como negar algumas diferenças biológicas entre homens e
mulheres, mas também não há como negar que muitas delas são culturais,
originadas ou reforçadas pela cultura, especialmente em tempos onde mais do que
nunca a sexualidade tornou-se um produto estimulado, consumido, comercializado.
Ou seja, , homens e mulheres (embora seja também uma questão
cultural), tem um grau de importância diferente em relação ao que estimulam
seus desejos, homens, condicionados ou não, talvez sejam sexualmente mais visuais, seja no início de
uma relação ou para manter o desejo sexual. Dizem que nós mulheres seríamos
mais auditivas. Mas acredito que essa ideia se consolida como disse pelo
condicionamento cultural, que sempre associou a imagem da mulher à afetividade,
à fragilidade, à maternidade, ao cuidado, etc. Mas, ledo engano, pensarem que
não somos visuais também, ainda que o grau de importância seja menor, mas
também sentimos estímulos sexuais visuais e diria que quando a mulher se
permite ela sente até mais que o homem porque sua sensibilidade visual torna-se
muito aguçada. Infelizmente os homens
ainda homens consomem e alimentam fantasias visualmente de uma maneira
bem mais natural que as mulheres. Nessa lógica, o desejo sexual
masculino seria uma associação conjunta da ação do feromônio e do estímulo
visual. Sabemos que muitos homens atingem uma estado de excitação, quase
instantaneamente através de um estímulo visual, ou seja, através visão do corpo
de uma mulher ou de um homem no caso dos homossexuais, despertando fantasias
sexuais. Um belo corpo é "ímã para o olho" masculino, por mais que
eles tentem evitar, há uma atração visual intensa e instantânea diante da
presença feminina.
- Podemos afirmar que somos todos voyeurs, em menor
ou maior grau?
Para
algumas vertentes de pensamento sim, para outras não. Não uma regra que tipifique
quem é ou não é um voyeur. Mas muitos são apenas curiosos, que assumidamente
não praticam esse fetiche.
- Quando o voyeurismo se torna um risco? Quando a
pessoa deve procurar ajuda profissional?
As
parafilias podem ser consideradas inofensivas e, de acordo com algumas teorias
psicológicas, são parte integral da psique normal, porém desde que, não estejam
ligadas a um objeto potencialmente perigoso, danoso para o sujeito ou para
outros (trazendo prejuízos para a saúde ou segurança, por exemplo), ou quando
impedem o funcionamento sexual normal, sendo classificadas como distorções da
preferência sexual. Quando esta passa a ser a única forma de buscar e obter
prazer sexual e quando a pessoa passa o dia todo pensando ou buscando essa
satisfação e isso passa a interferir nas atividades profissionais e relacionamentos pessoais. Observar outra(s)
pessoa(s) e ter fantasias é algo saudável, desde que não seja exagerado e isso
não cause sofrimento emocional e comportamentos doentios, se um voyeur se sente escravo desse tipo de prazer
deve procurar ajuda profissional. Há que se lembrar também que o voyeur pode ser considerado um criminoso, caso o
objeto de observação se sinta invadido em sua privacidade.
- Um casal pode inserir o voyeurismo na
relação de forma lúdica e saudável? Como?
Quando o assunto é sexualidade, fantasiar é essencial.
Por isso, sempre afirmo o nosso maior
órgão sexual e mais potente, é a mente. Através do pensamento, da
imaginação podemos ter as mais ousadas e excitantes fantasias,
interagimos corpo e mente, o que nos permite uma entrega maior e
consequentemente um prazo maior. Podemos afirmar que todas as pessoas tem
fantasias eróticas, elas são inerentes à sexualidade, e independem de do sexo,
são saudáveis e de certa forma, compensatórias. Porque mentalmente nos levam ao prazer e
são parte da sedução necessária, para que o erotismo estenda o desejo para além
do momento do ato sexual. Portanto, fantasiar é saudável, inclusive
estimular a fantasia é uma forma utilizada por alguns terapeutas para aumentar
a libido, induzir ou potencializar o desejo sexual e melhorar algumas
disfunções. Fantasiar contribui para o reconhecimento de nosso próprio corpo, o
que acontece especialmente na masturbação. Podem aumentar o desejo
sexual e estimular o desejo de nosso parceiro (a). Precisamos
ressaltar que, quando superamos alguns dogmas, tabus e preconceitos conseguimos
ultrapassar alguns limites morais. Porém, o que elas não devem é ultrapassar,
nossos limites éticos, pois dessa forma poderiam trazer sentimentos negativos,
sofrimento, culpa, medo e, colocar em risco não apenas nossa saúde mental como
física, exemplo, elas deixam de ser saudáveis, quando tornam-se
obsessivas, ou quando ignoram os limites de aceitação e prazer do parceiro, ou envolvem riscos de
saúde. As
fantasias sexuais são uma das formas mais deliciosas para apimentarmos um
relacionamento e mantermos acesa a chama do desejo. Ainda exercita nossa criatividade e nos ajuda
a superar os limites culturais repressores da sexualidade. Claro que nem todas
as fantasias se realizam, seja pela limitação social (cultural), por inibições
individuais, ou escolhas éticas ou pelo fato de que, elas são tão importantes
enquanto “fantasias” que se elas se realizassem perderíamos nosso
potencializador de desejo. Em cumplicidade num relacionamento mais duradouro as
fantasias eróticas podem ajudar a não cair na rotina ou a sair dela.
São estimulantes do desejo, trazem novos temperos e dão novos sabores à
relação, além de nos ajudarem a superar nossos tabus, nos libertando das
amarras psicológicas e morais a que fomos condicionados; melhorando a vivência
da sexualidade, tornando-a mais livre e prazerosa. Ajudam ainda, a melhorar a
autoestima, a exercitarmos nossa arte de sedução e desenvolver nossa
sensualidade nos tornando mais confiantes e mais abertos ao outro e ao prazer,
melhorando assim o relacionamento e permitindo contatos mais íntimos e
transparentes com quem nos relacionamos. Independente da fantasia o casal deve
ter claro que elas só devem ser vivenciadas em cumplicidade. Dialogar sobre as
fantasias abertamente é fundamental.
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