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Depois
de ler esse livro, O Amor Natural, lançando em 1992, Drummond, que já me
encantava, com seus poemas, mostrou-me que a natureza humana tem um quê de eros
e psiquê desinibidos, ele revela os sentidos, desnudando e traduzindo o lado bom da libido. Drummond escreve lindamente os
prazeres do corpo, a sensualidade da natureza humana, o alcance da psique, do
prazer lídimo, legítimo, do amor natural. Drummond transita entre o erótico e o
pornográfico com uma leveza tamanha, que nos deixa extasiados. Revela-se entre
o lado sexual instintivo e humanizado, a dialética perfeita, exultando a condição ínfima do ser humano, despido de qualquer pudor ou
moralidade. Mostrando o sexo no lado
primitivo e animal: ato, suor, sêmen, gemido, desejo, gozo, corpo. Socializo com vocês alguns poemas retirados
de O Amor Natural, de Carlos
Drummond de Andrade.
AMOR — POIS QUE ÉPALAVRA ESSENCIAL
Amor — pois que é palavra essencialcomece esta canção e toda a envolva.Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?Quem não sente no corpo a alma expandir-seaté desabrochar em puro gritode orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,fundido, dissolvido, volta à origemdos seres, que Platão viu contemplados:é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?Onde termina o quarto e chega aos astros?Que força em nossos flancos nos transportaa essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,já tudo se transforma, num relâmpago.Em pequenino ponto desse corpo,a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvense devassando sóis tão fulgurantesque nunca a vista humana os suportara,mas, varado de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorteque, além de nós, além da própria vida,como ativa abstração que se faz carne,a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,menos que isto, sons, arquejos, ais,um só espasmo em nós atinge o clímax:é quando o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro,no úmido subterrâneo da vagina,nessa morte mais suave do que o sono:a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,estendidos na cama, qual estátuasvestidas de suor, agradecendoo que a um deus acrescenta o amor terrestre.
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.
A língua lambe
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.
Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.
Sugar
e ser sugado pelo amor
A
língua lambe as pétalas vermelhas
E
lambe, lambilonga, lambilenta,
A
castidade com que abria as coxas
Ah,
coito, coito, morte de tão vida,
em
mim ressuscitados. Era Adão,
Roupa
e tempo jaziam pelo chão.
Mimosa
boca errante
Boca
mimosa e sábia,
Mimosa
boca e santa,
Já sei
a eternidade: é puro orgasmo.
Sem
que eu pedisse, fizeste-me a graça
Hoje
não estás nem sei onde estarás,
Adorando.
Nunca
pensei ter entre as coxas um deus.
Vou começar acompanhar seus post's. Pelos que já assisti, via YouTube, gosto do seu trabalho e agradeço-te por compartilhar todo esse conhecimento de uma forma tão sensível e compreensível. Beijos
ResponderExcluirOlá. Estive visitando o seu blog, gostei muito e me tornei seguidora.
ResponderExcluirEu também tenho um blog, o “Super Promonauta”. Se puder me faça uma visitinha também, e se por acaso gostar e quiser me seguir, será uma honra.
Obrigado e parabéns pelo site!
http://super-promonauta.blogspot.com.br