domingo, 15 de julho de 2012

Sobre a emancipação da Mulher

Compartilho com vocês um trecho da minha leitura de hoje: Lenin, "Sobre a Emancipação da Mulher"! 

Destaco a seguinte fala, para quem deseja compreender que a verdadeira liberdade sexual pela qual lutamos, que é muito diferente desta da liberdade sexual burguesa que as pessoas e inclusive muitos estudiosos empreendem nos dias atuais:

"[...] O jugo das leis do Estado burguês relativas ao matrimônio e à família agravam o mal e amplificam os conflitos. É o jugo da "sacrossanta propriedade privada". Esta consagra a venalidade, a baixeza, a sujeira moral. O engano convencional da "respeitável" sociedade burguesa coroa o resto. As pessoas se rebelam contra as abominações e as perversidades imperantes. E nesta época, quando se desmoronam Estados poderosos, quanto caem podres as velhas relações de domínio, quando começa a perecer todo um mundo social, nesta época as emoções do homem experimentam rápidas mudanças. O desejo veemente na diversidade dos prazeres adquire facilmente uma força irrefreável. As formas do matrimônio e das relações entre os sexos no sentido burguês já não satisfazem. No terreno do matrimônio e das relações sexuais se aproxima uma revolução em conssonância com a revolução proletária. Compreende-se que o acúmulo de questões extraordiariamente complexo, que isto planteia na ordem do dia, preocupa profundamente tanto a mulher como a juventude. A mulher e a juventude sofrem com particular rigor as consequências da irregularidade na esfera das relações sexuais. A juventude se levanta contra isto com ímpeto próprio de sua idade. Isto é compreensível. Nada mais falso que predicar à juventude um ascetismo monacal e a satidade da suja moral burguesa. No entanto, não está correto que nestes anos as questões sexuais, colocadas com intensa força por causas naturais, passem a ser as questões centrais na vida psíquica da juventude. As consequências são simplesmente fatais.

A nova atitude da jovem geração com as questões da vida sexual é uma atitude "de princípios" e se fundamenta em uma suposta teoria. Muitos qualificam sua posição de "revolucionária" e "comunista". Pensam sinceramente que isto assim é. Eu, um velho, não sou desta opinião. Ainda que não tenha nada de um asecta sombrio, a chamava "nova vida sexual" da juventude - e frequentemente dos adultos -, me parece, com bastante frequência, uma vida puramente burguesa, me parece uma variedade das respeitáveis casas burguesas de tolerância. Tudo isto não tem nada de comum com o amor livre, como o entendemos os comunistas. Você, naturalmente, conhece a famosa teoria de que, na sociedade comunista, satisfazer o desejo sexual e as inquietudes amorosas é uma coisa tão simples e de tão pouca importância como beber um copo d'água. Por causa desta teoria do "copo d'água" nossa juventude perdeu as estribeiras, simplesmente perdeu as estribeiras. Esta teoria se tem convertido em uma sina fatal para muitos jovens. Os partidários dela afirmam que é uma teoria marxista. Graças sejam dadas a este "marxismo", para o qual todos os fenômenos e mudanças na superestrutura ideológica da sociedade se deduzem, exclusivamente, de maniera imediata e direta, e sem exceção, da base econômica. A questão não é tão simples, muito pelo contrário. Um tal Frederich Engels estabeleceu há muito tempo esta verdade, referente ao materialismo histórico.

Creio que a famosa teoria do "copo d'água" não tem nada de marxista e, além disso, é anti-social. Na vida sexual se manifesta não só ao que o homem lhe dá a natureza, mas também o que - de grandioso ou de mal - lhe aportou a cultura. Na "Origem da Família" Engels assinala quão significativo é que a simples atração sexual se tenha desenvolvido até converter-se no amor sexual individual e se tenha elevado mais e mais. As relações entre os sexos não são a simples expressão do jogo entre a economia sexual e a necessidade física. Não seria marxismo, mas racionalismo, tratar de reduzir diretamente à base econômica da sociedade a mudança destas relações por si mesmas, desligadas de sua conexão geral com toda a ideologia. Naturalmente a sede exige ser satisfeita. Mas, acaso uma pessoa normal, em condições normais, se meteria em plena rua a beber água da lama ou de um copo cujas bordas tenham passado por dezenas de lábios? Porém o mais importante de tudo isso é o aspecto social. Beber água é realmente coisa individual. Porém, no amor participam dois e surge uma terceira, uma nova vida. Aqui, aparece já o interesse social, surge o dever ante a sociedade.

Como comunista, não sinto a menor simpatia pelas teorias do "copo d'água" ainda que ostente a etiqueta do "amor livre". Para acrescentar, não é nova nem comunista. Você, provavelmente, recordará que esta teoria era preconizada plea literatura aproximadamente em meados do século passado, como a "emancipação do coração". Na prática burguesa, esta teoria se converteu em emancipação do corpo. As prédicas daquele tempo eram mais inteligentes que agora: no que concerne a prática, não posso julgar.

Não que eu queira, com minha crítica, pregar o ascetismo. Nem pensar em tal coisa. O comunismo deve trazer consigo não o ascetismo, mas a alegria de viver e o otimismo, suscitado também pela plenitude da vida amorosa. No entanto, segundo me parece, o excesso da vida sexual que hoje constantemente observamos, longe de aportar alegria vital e otimismo, os diminui. Em tempos de revolução, isto é mau, muito mau.

A juventude necessita particularmente alegria vital e otimismo. Esporte saudável - ginástica, natação, excursões, exercícios físicos de toda classe -, diversidade de inquietudes espirituais, estudo análise, investigação, e tudo isto combinado, se possível! Tudo isto dá à juventude mais que as eternas conferências e discussões sobre os problemas sexuais e o chamado "gozo da vida". Uma mente são em corpo são! Nem um monge nem um Don Juan, nem, tampouco, um filisteu alemão como termo médio. Você conhecerá, talvez o jovem camarada XYZ. Magnífico e inteligente rapaz! Temo que, apesar de tudo, dele não sairá nada de proveitoso! Cai de uma história amorosa a outra. Isto não serve nem para a luita política nem para a revolução. Tampouco garanto a firmeza e o brio na luta daquelas mulheres cujas veleidades amorosas se entrelaçam com a política e daqueles homens que não perdem o olhar a cada saia que passa e que se deixam enredar por cada jovenzinha que conhecem. Não, não, isto não se afina com a revolução.

Lenin se pôs de pé, golpeou com o punho a mesa e deu uns quantos passos pela sala.

- A revolução exige das massas e dos indivíduos concentração interna e tensão das forças. Não aceita estados de orgia como os habituais para os heróis e heroínas de D'Annunzio. A incontinência na vida sexual é burguesa: é um signo de degeneração. O proletariado é uma classe ascendente. Não necessita de embriaguez que o enerve ou o excite. Não necessita nem da enbriaguez da incontinência sexual nem de embriaguez alcoólica. Não pensa nem quer esquecer a vileza, a podridão nem a barbárie do capitalismo. Extrai os mais fortes estímulos para a luta da situação de sua classe, do ideal comunista. Necessita clareza, clareza e, uma vez mais, clareza. Por isso, repito, não deve haver a menos debilidade, o menor desperdício e esgotamento de forças. O domínio de si mesmo e a autodisciplina não significam escravidão: necessita-se igualmente no amor. Porém, perdoe-me Clara. Afastei-me muito do ponto de partida de nossa conversação. Por que você não me chamou a atenção? O alarme me obrigou a falar demais."

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