sexta-feira, 8 de abril de 2011

Criança precisa brincar, aprender a amar, a ler, a escrever e a sonhar. Reflexões decorrentes do Massacre no Realengo



"Não se pode falar de educação sem amor. [...] Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda."
                                                                                ( Paulo Freire )                


Luciana Pereira, atendendo seu pedido, eis minha reflexão sobre o ocorrido na escola do Rio, espero que alcance sua expectativa. Foi a educadora Cláudia Bonfim, falando com o corpo, a alma e o coração!
 E os frutos de uma sociedade desumana, capitalista, extremista, desigual, vão absurdamente aparecendo... 11 crianças mortas dentro de uma escola. Vítimas possivelmente de outra “vítima” da sociedade, que desumanamente, tirou vidas, possibilidades, sonhos destas e de tantas outras vidas...
Não há como não se posicionar, não se indignar diante de tamanha barbárie. E nesse momento como educadora o que me vem à mente diante de tal atrocidade é o que leva uma pessoa a cometer um crime assim?

E não consigo sequer começar a pensar sobre isso, sem ter em mente as questões sócio-histórico-culturais. Me faz mais uma vez ver, o quão necessária é na escola a educação afetivo-sexual. Falar de afeto, de sonhos, de coisas bonitas, de possibilidades, de amor é tão necessário na escola hoje como ensinar a ler e a escrever. A sexualidade é afetividade, é desenvolvimento e relacionamento humano. As pessoas não desumanizam sozinhas, elas são frutos de uma história, de uma vida muitas vezes que sequer lhe propiciou humanizar-se. E eis,que outra questão me vem à mente: que mundo é esse onde os seres Humanos, são (des)umanos?
‎Hoje o que a gente visualiza na sociedade é criança sem brilhos nos olhos, sem sorriso rosto, sem sonhos na mente, criança com depressão. Que sociedade demente. Isso é o mais vísivel sintoma de uma sociedade doente. E lembrando o mestre Paulo Freire “[..]a história que se processa no mundo é aquela feita pelos seres humanos.” 
Profa. Dra Cláudia Bonfim
Confira nossa reflexão na íntegra clicando no vídeo abaixo.


5 comentários:

  1. Eu debito a maior parte dos nossos problemas educacionais aos programas das redes de TV brasileiras, que persuadem as crianças que a violencia é natural, a mercantilização do afeto é um dom divino. Há inúmeros bons exemplos de programação infantil na Europa, Japão, Canada e, mesmo, nos EUA.

    Henrique LEVY, Ph.D.

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  2. Cláudia, permita-me opinar criticamente, sem de forma alguma discordar da sua visão. Acho que ela é parcial. A explicação histórico-sócio-cultural explica como chegamos a esse ponto. Mas, como dizia o tio Carlinhos no século 19, trata-se agora não apenas de interpretar, e sim de transformar. Não se traz de um dia para o outro esse mundo ideal em que a criança terá essa afetividade na escola. Enquanto isso não acontece, a sociedade precisa se proteger desses riscos. E como? Através de processos que precisamos inventar, nos quais pessoas assumam responsabilidades individualmente, no sentido de detetarem esses riscos precocemente no comportamento das pessoas, e tenham como agirem para que pessoas que apresentem sinais de desvios possam ser acompanhadas, orientadas ou mesmo vigiadas. É possível detetar com antecedência a tendência a comportamentos monstruosos como esses. Sei que isso traz dilemas éticos e jurídicos consideráveis. A sociedade precisa se debruçar sobre eles, e criar processos compativeis com a nossa cultura e com os princípios dos direitos humanos. Há um caminho longo a ser percorrido nesse sentido, até que consigamos corrigir as inúmeras deficiências estruturais que herdamos, e que resultam na falta de ambientes afetivos para as crianças. E enquanto isso a humanização dos ambientes escolares também pode ir caminhando, mas na velocidade que sabemos ser lenta, das mudanças baseadas nas iniciativas individuais.

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  3. Sérgio que alegria ter um comentário seu aqui, claro é uma visão de uma educadora afetiva, há sim outros lados que envolvem a questão. Eu coloco meu olhar de educadora, e sua visão não de entra de maneira alguma em confronto com a minha, apenas a complementa. A realidade é complexa, muito! Temos sim também que nos proteger dela, de alguma forma e como você mesmo disse, continuar caminho rumo à humanização e afetividade, ainda que conscientes que é um processo, que o caminho é longo e que os passos são lentos. O que não podemos é ficar estagnados, nem de um lado, nem de outro. Obrigada pela preciosa contribuição aqui. Volte sempre! Meu abraço.

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  4. Henry tu sabes que tuas valiosas contribuições são sempre uma alegria para mim. Sim, os desenhos em geral são de lutas e estimulam comportamentos agressivos na crinça, sem dúvida. Abraços!

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  5. Drª Cláudia, muitíssimo obrigada pelo artigo publicado aqui em seu blog sobre o assassinato na Escola do RJ. Que honra ter o meu pedido atendido tão prontamente e de forma tão profissional. Chequei a me emocionar ao ouvir o vídeo! Fui transportada à minha infância, que muito difícil que foi, mas ainda foi vivenciada numa época mais pura que hoje, com mais sonhos como a senhora narrou! Obrigada! Extraio um trecho de sua fala e tento seguir acreditando que isso não é uma utopia : “...Falar de afeto, de sonhos, de coisas bonitas, de possibilidades, de amor é tão necessário na escola hoje como ensinar a ler e a escrever.” Quem me dera os educadores, ao menos uma parte deles, tivesse esse compromisso com seus educandos. Porém, há tantos educadores doentes e se “arrastando” nesse tão nobre ofício que é a arte de educar. Muitos estão tão desolados com suas vidas, com seus conflitos que não têm saúde emocional para passar alguma coisa boa para os alunos. Drª Cláudia, faço um apelo: o que poderia ser feito pelos educadores que não conseguiram ter essa visão, ou , se a têm, não conseguem educar de fato? Meu Deus, onde estão os educadores felizes? Alguns diriam que é o salário que está baixo. De certa forma, talvez seja o salário, mas quando não se está feliz consigo mesmo, não há dinheiro que transforme nossa maneira de ver a vida.Desculpe, Drª Cláudia, acabei desabafando, mas há um caos generalizado, mas quero crer que um dia vai melhorar.Obrigada pelo excelente texto! Abraços . Luciana

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