quarta-feira, 9 de março de 2011

“(DES) HUMANO?”



Vivemos numa sociedade cada dia mais desumanizada. Basta ligar a TV e isso se confirma: são as notícias de pedofilia, violência, drogas, corrupção política, os infindáveis atos de violência, abandono, descaso... E me pergunto como fica a “Educação” diante disto?
 A Educação a que me refiro é o ato de Educar em sua totalidade, educação familiar, escolar... Enfim, como vem sendo tratada a Educação, em tempos de globalização, tecnologia, competição exacerbada, individualismo, modernismos e tantos outros “ismos” presentes na sociedade capitalista, mercantilista...?
Partindo do entendimento de que Educar pressupõe relação humana, diálogo, troca, afetividade, valores éticos, para que esta ocorra necessita-se de respeito. Fico pensando, quais exemplos tem dado a família, a escola e a sociedade para as novas gerações. E não se trata de moralismo, mas de uma carência de valores que são imprescindíveis a todo ser humano.
relação atual entre pais e filhos na maioria das vezes é quase inexistente, cada um buscando seus próprios objetivos, a relação entre amigos muitas vezes é apenas virtual, ou seja, a máquina ultrapassando, ou pior superando a importância do contato humano (do toque, do olho no olho).
É necessário provocarmos reflexões acerca do que estamos nos tornando, sobre o que a ideologia vigente, tem nos condicionado a fazer? Até que ponto não estamos nos desumanizando e se deixando inconscientemente desumanizar-se? Até que ponto não estamos nos tornando “animais” quando aceitamos ainda que, sem perceber que sejamos domesticados pela classe dominante, pela mídia, pela tecnologia, pelas ondas da modernidade, da globalização?
Não se trata de vivermos alheios a tudo isto, mas não deixarmos que nos tornemos produtos e não produtores de nossas vidas. Não podemos perder nossa subjetividade, nossa capacidade de olhar o próximo, de sensibilidade e indignação, de entender que a vida humana necessita de cooperação, de afeto, de interação, de calor humano, de que precisamos uns dos outros.
Fico pensando, que Educação é essa que nos torna cada dia mais alienados, materialistas e gananciosos por “status”, poder. Não podemos perder o que de belo temos, devemos ser razão e emoção.
Precisamos entender que Educar é ensinar a ver a vida com olhos humanos, a conhecer a si mesmo, ao universo, para tornamos nossa existência melhor, e o mundo mais humanizado e digno de se viver, ou continuaremos a ser produto social. Eu me nego a ser produto, porque quero e tenho por direito produzir minha própria história. Nego essa desumanização que impera.
É urgente uma educação pautada na humanização em tempos onde “Ser Humano” parece coisa de outro mundo.
Fico indignada vendo ao trágico, obscuro e doloroso quadro que a própria humanidade pintou. É a guerra dos homens entre si e dentro de si, e por outro lado a revolta da natureza pela guerra indefesa que ela tem sofrido.
O quadro cotidiano é de violência, morte, miséria,  injustiça,  desigualdade, de relações ocas, de uma juventude sem referenciais, de um ser humano desumanizado. Esses são retratos de um mundo que agoniza, onde falta especialmente amor e fé num ser superior. Tamanha fragmentação social é fruto da ganância humana pelo poder.
Penso no quão insensível as pessoas têm se tornado, acotumando todo dia a apreciar esse tão obscuro quadro, como se ele fosse uma paisagem natural, se esquecendo que o mundo sendo produto histórico humano pode começar a ser re-desenhado, voltar a ter o colorido de uma aquarela.
Alienação religiosa, alienação política, social, sexual, a alienação impera! Somos capazes de ultrapassar as barreiras do planeta terra, mas não somos muitas vezes capazes de ultrapassar nossas próprias barreiras, e fazer uma viajem no interior de si mesmos.
Somos frutos de uma sociedade materialista, capitalista e individualista. Mas ainda sou capaz de sentir uma dor que corta e queima, e me faz sofrer, e chorar, e sentir na pele, o sofrimento que a população inconscientemente tem sido capaz de suportar a duras penas. Me pergunto para onde caminha essa humanidade? Até quando essa alienação vai conseguir dominar os milhões de oprimidos? Até quando o homem vai permitir se auto-destruir e continuar vivendo essa pseudo-felicidade consumista, quantitativa e descartável e continuar suportando tanta barbárie?   E nossos governantes que deveriam representar essa classe injustiçada, violentada de todas as formas; que têm feito além de representar seus interesses próprios ou da classe dominante? Como são capazes de dormir tranqüilos, cientes dessa situação? Até quando vai imperar tanta alienação? 
Essas são perguntas que não calam diante de tanto descaso e de uma surdez que paira mesmo diante de “gritos ensurdecedores” de uma sociedade que clama por socorro, que precisa urgentemente de um referencial, de um porto seguro onde passa voltar a ancorar seus sonhos, sua vida, suas esperanças de dias melhores. O que não quero e não posso como educadora e cidadã é continuar apreciando esse quadro todos os dias, eu ouso, usar nele outras cores, retocá-lo com alegria, com amor, com minha paixão pela educação, com diálogo, com democracia, com cidadania e transformar as cores sombrias em luzes capazes de nos presentear com a esperança da aurora de novos dias.
Profa. Dra. Cláudia Bonfim
Artigo Revisado e ampliado - Publicado no Jornal Popular – Cornélio Procópio - PR na edição de 10/02/2006 

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