sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

ANORGASMIA FEMININA: uma leitura sócio-histórica-cultural – I Parte

Ouça o post na íntegra através do áudio acima!
Segue abaixo alguns trechos do post.
Boa tarde queridos leitores, seguidores e ouvintes do nosso Blog Educação e Sexualidade, é com muito prazer e alegria que iniciamos o post de hoje mandando um abraço ao nosso amigo Carlos Batista Rodrigues de Campo Largo – PR e a todos vocês que acompanham nosso trabalho. O número de visitas e demonstrações de apreço pela nossa luta por uma educação afetivo-sexual emancipatória tem nos surpreendido e nos motivado cada dia mais a continuar tentando de alguma forma contribuir para que as pessoas possam adquirir consciência ética, qualitativa e crítica da vivência de suas sexualidades, a partir da socialização das leituras e estudos teóricos que fazemos, mas especialmente da nossa observação sensível dos relatos, pesquisas empíricas, da leitura crítica da nossa práxis como docente, pesquisadora e educadora sexual, nas palestras, salas de aula e nas intervenções sociais.

          Uma mulher que não consegue sentir prazer geralmente perde o desejo sexual, tendo sua libido diminuída.    A sexualidade historicamente de caráter reprodutivo para a mulher e vista como algo pecaminoso, sujo e que deveria ser vivenciado apenas dentro do matrimônio, além de situações de abuso geram traumas e disfunções como a anorgasmia e  o vaginismo, que não decorrem apenas de problemas físicos, mas também psicológicos advindos de uma educação sexual repressora onde o prazer parecia ser um direito quase que exclusivo do homem, assim como a masturbação. 

O tema de hoje faz uma abordagem sócio-histórica-cultural da Anorgasmia, e estará dividido em duas parte, vamos ao post...

Estudos científicos demonstram um alto índice de disfunções sexuais, entre as quais está anorgasmia feminina que pode-se definir como a dificuldade em atingir (atraso) ou como a ausência do orgasmo.
E não há como se falar de orgasmo ou de falta dele, sem referirmo-nos a Reich, cuja importante contribuição,  revolucionou a Psicologia e posteriores estudos sobre a sexualidade humana, provando que a neurose é produzida socialmente, instalando-se em todo o corpo e não apenas na mente das pessoas através do conceito de couraça neuro-muscular do caráter, mostrando como a neurose se dá através da estagnação da energia vital. Em seu livro "A Função do Orgasmo", Reich aponta que, o orgasmo sexual pleno e satisfatório é o regulador biológico da harmonia vital. E afirma que, as neuroses são provocadas pelo desvio da originalidade das pessoas, através de bloqueios à sexualidade e à afetividade, associando estas ao indivíduo, seu corpo, mas também, às suas relações sociais, caracterizando-se portanto, como um fenômeno sócio-político.

Acreditamos que mesmo que os estudos de Reich possam divergir em muitas questões de uma leitura marxista da sexualidade, nos ajudam de certa forma, a compreender dialeticamente a mesma, quando Reich aponta o fato de que a família e a procriação obscureceram desde o início a função do prazer biológico.
Importante lembrar que a  idéia da libertação da mulher originou-se no chão fértil do da luta socialista, entre o final do século XIX e início do século XX.  As raízes desta luta estão nos escritos de Marx e Engels mostrando a visão da família, da mulher proletária e da burguesa. Como afirmou Marx: “a opressão do homem pelo homem iniciou-se com a opressão da mulher pelo homem”. Consideramos que "A Origem da Família, da Propriedade e do Estado", de Engels, como a base socialista sobre a necessidade da libertação da mulher proletária.
Bem, por hoje é só no próximo post daremos continuidade à esta temática , com a segunda parte deste post, onde abordaremos sobre a resposta orgástica, as causas sócio-histórico-culturais da anorgasmia e a importância da educação sexual para amenizar a problemática.
Abraços, até lá!
REFERÊNCIAS
 BASSON, R; SCHULTZ, W. W. Sexual sequelae of general medical disorders. Lancet. 2007. v.369, p.409-424.
ENGELS, F. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
REDELMAN, M. A general look at Female Orgasm and Anorgasmia – Sexual Health.
2006. v. 3, p.143-153.
          REICH, W. A função do orgasmo. 15 ed. São Paulo: Brasiliense; 1975.
SAADEH, A. Disfunção sexual feminina – conceito, diagnóstico e tratamento. In: ABDO, C. H. N. (org.). Sexualidade humana e seus transtornos. 2 ed. São Paulo: Lemos Editorial, 2000. p. 53-68. 

Um comentário:

  1. Estimada Professora Doutora Cláudia Bonfim:
    .
    Como estudioso da Sexualidade, agradeço mais uma vez seu pioneirismo da divulgação dos temas relacionados ao aspectos da Afetividade e do Prazer.

    Primeiramente, gostaria de contribuir citando Alexandra Kollontai - pioneira do Feminismo soviético - que vive no esquecimento, apesar do muito que contribuiu em sua época. Mais detalhes no Wikipedia:

    Portugues >>> http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandra_Kollontai

    Ingles >>>
    http://en.wikipedia.org/wiki/Alexandra_Kollontai

    Frances >>>
    http://fr.wikipedia.org/wiki/Alexandra_Kollonta%C3%AF

    Espanhol >>>
    http://es.wikipedia.org/wiki/Aleksandra_Kolont%C3%A1i

    Kollontai é autora da famosa contenda sobre sexo como "um copo d'água". Leitores devem ler preferivelmente os textos em ingles e frances por serem mais informativos.

    O seu vídeo desta semana introduz delicadamente o tema da anorgasmia feminina - espero pleno desenvolvimento da sua complexidade nas semanas vindouras. Toca ligeiramente, mas com precisão, na origem da família, de Fried. Engels - um texto um pouco fora da linha de estudos antropológicos iniciada por Malinowski
    >>> http://en.wikipedia.org/wiki/Bronis%C5%82aw_Malinowski


    e Margaret Mead
    >>> http://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Mead

    que são clássicos nos estudos comparativos da sexualidade, contrastando o Ocidente capitalista com sociedades tradicionais do sul do Pacífico, onde os homens assumem abertamente seu lado "mulher", com papéis tidos como femininos no Ocidente.

    O lado psicanalítico de W. Reich é instigante, embora eu seja leigo no assunto.

    Desejo-lhe pleno êxito em sua luta pela melhor compreensão da sexualidade feminina pela mulher, bem como pelo homem - e vice-versa.
    .
    Com respeiro e consideração,

    Henrique Levy, Ph.D.

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