terça-feira, 17 de agosto de 2010

Amor Líquido


O post de hoje é para indicar nossa mais recente leitura, o livro “AMOR LÍQUIDO– SOBRE A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS”, de ZIGMUNT BAUMAN.

O autor consegue, ao nosso ver, fazer um leitura realista dos relacionamentos modernos e pós-modernos, num mundo que ele identifica como líquido, em que as relações se estabelecem e se findam com extraordinária fluidez, marcadas pela ausência de comprometimento com o outro, onde as pessoas gostam de estar juntas apenas para sentir prazer, e como o prazer é momentâneo, em pouco tempo as relações são trocadas por outras. Aponta também, que há aqueles que vivem um relacionamento estável, mas sem excluir a possibilidade de viver conjuntamente outros relacionamentos. Que convivem juntos, mas abrem possibilidades de outros relacionamentos e há aqueles que não dividem o mesmo espaço, porque acreditam que precisam preservar sua liberdade, evitando a rotina e os conflitos da vida a dois, sem perceber que isto pode se configurar em uma relação que seja mais fácil romper, cada um já está no seu próprio espaço, ou seja, não tem o mesmo nível de comprometimento de um relacionamento de convivência comum. O autor coloca que viver desta forma é como procurar um abrigo sem vontade de ocupá-lo por inteiro.

Bauman ainda analisa a busca virtual de relacionamentos, mostrando que a virtualidade tem ganhado mais espaço que encontros concretos, e aponta que com o crescimento das redes virtuais, a intimidade pode sempre escapar do risco de um comprometimento, e de um envolvimento real que a possibilidade de estar sempre disponível para outras aventuras. Bauman mostra que na sociedade de hoje há um propensão maior à vivência de relacionamentos descartáveis, que ilusoriamente encenam episódios românticos e líquidos, flexíveis.

Bauman aponta ainda que, na era do individualismo e do consumismo, estamos mais bem aparelhados para disfarçar um medo antigo da solidão, entre celulares e notbooks, vivemos uma solidão ilusoriamente acompanhada, que teme: o amor por outra pessoa e comprometimento.

Ainda retrata duas contradições centrais: de um lado a “vontade de ser livre” inerente à constante busca pela individualização, e de outro constante a busca por alguém ideal, como se existisse uma pessoa perfeita. Mas a pessoa perfeita não existe, existe a pessoa certa. Capaz de nos compreender, respeitar e amar. Mas, nessa busca do ideal, que ao mesmo tempo quer sua liberdade, a velocidade com que as pessoas são trocadas por outras é quase inacreditável. Na sociedade pragmática e utilitarista as coisas e relações não mais são feitas para durar. Se a relação não está boa, parte-se para outra, isso quando de fato se consolida um relacionamento, pois muitas vezes, a busca começa e termina em uma única relação sexual.

Bauman afirma, que nunca houve tanta procura para relacionar-se com alguém, mas as relações são frágeis, começam e terminam na mesma velocidade. Pois, na sociedade consumista globalizada há sempre novos “produtos”, mais modernos, atraentes e estimulantes para serem consumidos. Assim, Bauman trata das conseqüências provocadas por uma sociedade que sustenta a busca pela individualização, pela liberdade em detrimento da vida afetiva estável.

Considera ainda que, mesmo as relações afetivas são muito ambivalentes; todos querem a segurança de um amor eterno, mas desejam também voar e ter o pássaro que voa enquanto mantém o outro seguro nas mãos. A insatisfação afetiva ou sexual, muitas vezes levam os parceiros à buscar outras experiências e relações, consentidas inclusive. Algumas vezes acreditando que isto pode inclusive, salvar ou melhorar seus relacionamentos conjugais. Ou seja, são relações frágeis e flexíveis, advindas segundo Bauman, especialmente da racionalidade da sociedade moderna e globalizada.

Enfim, em nossa análise, consideramos que o livro nos leva a refletir sobre relações descartáveis, sem vínculo seguindo a lógica do consumismo. Numa sociedade onde a maioria das pessoas estão “disponíveis”, acredita-se que o que importante a quantidade e não a qualidade de relações. Disputam-se quantas pessoas beijaram em uma noite, quantos parceiros sexuais conseguem em um dia, ou em uma semana, o outro é visto como um produto/objeto disponível para consumo. E geralmente as pessoas amanhecem o dia em suas camas, casas, e solidões vazias. Alguns sentem-se culpados por ter sido usados, outros já descartam a memória, e seguem como se nada tivesse acontecido, afinal em suas perpeções e sensações vazias, nada aconteceu mesmo, pois o que não tem significado, nem afeto, nada representa de fato. E seguem, na busca insaciável...

Vale a pena, ler e refletir!

Eu jurei que ia escrever um post pequeno, mas para variar eu sempre necessito ir além e aprofundar, característica de gente intensa.

Abraços e até nosso próximo post!



3 comentários:

  1. Ainda bem que sua "intensidade" não se aquieta, caso contrário, não me entusiasmaria em ler o livro recomendado. Vou comprá-lo e, tal como você, aprofundar a leitura.

    As ideias do autor, por você postadas, instigam a reflexão, principalmente em razão de tanta imersão nessa "blogsfera"!

    E, com certeza, preciso voltar mais... Ando muito atarefado, com viagens e situações profissionais bastante sérias (intervenções, gestões complexas). E aqui gosto de ter tempo, calma...

    Abraços!

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  2. Olá Gilmar, é sempre uma alegria receber seus comentários, isso me motiva a continuar socializando minhas inquietações e reflexões. Entendo que a vida é mesmo exigente, repleta de demandas e fico feliz em saber que dedica uma parte do seu precioso tempo há ler meus escritos. E diria que todos estamos sujeitos à esse mundo líquido e que manter nossa intensidade é não se deixar levar pela onda de superficialidade do mundo. Eu digo e repito sempre, que para mim, além da racionalidade o que nos caracteriza como seres humanos é a afetividade, a sensibilidade, é nossa capacidade de sentir, de se indignar, de amar e ser amado, se perdermos isso, caímos na fluidez e na eterna busca do nada.
    abraços, obrigada pelo comentário e volte sempre que puder!

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  3. Prezada Dra. Cláudia,

    Seus comentários da leitura dos escritos de Bauman são pertinentes - mais até, diria -, necessários. Venho me debruçando nesse tema da liquidez, mais especificamente no que diz respeito aos direitos humanos, ao princípio da dignidade da pessoa humana. Bauman dialoga com diversas áreas do conhecimento e nos convida para uma prática ética, individual e coletiva. Algumas pessoas poderão viver de forma mais intensa, com mais qualidade, se promoverem o respeito por si e pelos outros, cientes de que estamos todos integrados, queiramos ou não. Isso é feito para que o processo histórico civilizatório humano tenha continuidade e seja - importante - principalmente sustentável. Isso implica na construção de um projeto jurídico que leve em consideração toda essa discussão, para a manutenção da pacificação social.

    Parabéns pelo espaço. Abraço.

    André Luiz Rodrigues

    www.andyorm.blogspot.com

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