quarta-feira, 19 de maio de 2010

A decadência dos "elogios" musicais no jogo da "conquista"

"Elogios", são ou eram, formas de seduzir, de conquistar. Ao longo das décadas essas formas de elogios e "conquistas" mudaram muito, especialmente quando a música é utilizada como forma de "elogio" no jogo da "conquista". Ao longo das décadas, vocês poderão perceber que os "elogios" musicais mudaram. E por que estou abordando este tema? Porque geralmente as pessoas tem uma música que marca esse momento de "conquista", e afinal quem nunca teve pelo menos uma música que marcou um momento de "conquista"? Mas não estou falando de romance e relacionamentos amorosos, porque ai a trilha sonora certamente seria outra, mas sem mais delongas, vamos ao post de hoje que é baseada nos slides de power point que um amigo meu o Prof. Dr. Fábio Zoboli me enviou sobre a decadência do romantismo no Brasil e que eu adaptei para a decadência dos elogios no jogo da conquista, ou melhor da caça... Neste post estou falando da desvalorização dos elogios no quesito conquista sexual, no âmbito da caça, não dos relacionamentos amorosos. Claro que tudo isto é cultural, afinal tudo virou produto na sociedade mercantil e midiática.

Pensem comigo, na década de 1930 , o homem geralmente vestido de terno cinza e chapéu Panamá, se dirigia em frente à vila onde sua Flor, morava. Flor era como ele se elogiava à mulher amada, e então ele cantava para sua FLOR:
"Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa!
Do amor por Deus esculturada.
És formada com o ardor da alma da mais linda flor, de mais ativo olor,
que na vida é a preferida pelo beija-flor...." (Rosa – Pixinguinha)

Já na década de 1940, o enamorado ajeitava seu relógio Pateck Philip na algibeira, escrevia para a Rádio Nacional e pedia que oferecessem a ela uma linda música para a sua DEUSA:
"A deusa da minha rua, tem os olhos onde a lua, costuma se embriagar.
Nos seus olhos eu suponho, que o sol num dourado sonho, vai claridade buscar... "
(A deusa da minha rua)

Na década de 1950, ele pedia ao cantor da boate que oferecesse para aquela que ele chamava de LINDA MENINA, a interpretação de uma bela bossa:
"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça.
É ela a menina que vem e que passa,
no doce balanço a caminho do mar.
Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema.
O teu balançado é mais que um poema.
É a coisa mais linda que eu já vi passar."
(Garota de Ipanema – Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Na década de 1960, o moço apaixonado aparecia na casa sua GAROTA PAPO FIRME com um compacto simples embaixo do braço, ajeitava a calça Lee e coloca na vitrola uma música papo firme:
"Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito não é maior que o meu amor, nem mais bonito...”
(Como é grande o meu amor por você - Erasmo e Roberto Carlos)

Nos meados da década de 1970, ele chega em seu fusca, com tala larga, sacode o cabelão, abre a porta prá MINA entrar e bota uma melô jóia no toca-fitas:
"Foi assim... como ver o mar...
a primeira vez que os meus olhos se viram no teu olhar...
Quando eu mergulhei no azul do mar, sabia que era amor e vinha pra ficar..."
(Todo azul do mar – Flávio Venturini)

Na década de 1980, ele telefona pra sua LINDA e deixa rolar um:
"Fonte de mel, nos olhos de gueixa, Kabuki, máscara.
Choque entre o azul e o cacho de acácias, luz das acácias, você é mãe do sol. Linda e sabe viver você me faz feliz...."
(Você é linda – Caetano Veloso)

Na década de 1990, o pretendente ou namorado ligava pra o seu BEM, chamando-a para mais perto, convidando-a para um namoro mais ousado, mas inda de maneira romântica, e deixa gravada uma música na secretária eletrônica:
"Agora vem pra perto vem,
vem depressa vem sem fim dentro de mim
que eu quero sentir
o teu corpo pesando sobre o meu
vem meu amor vem pra mim,
me abraça devagar,
me beija e me faz esquecer. "
(Bem que se quis – Marisa Monte)

Mas é nesta década de 1990, que inicia-se uma revolução, ele liga pra sua LOIRINHA, MORENINHA, NEGUINHA e a convida para um RALA, RALA e curtir :
"Bota a mão no joelho
E dá uma abaixadinha
Vai mexendo gostoso,
Balançando a bundinha
Agora mexe vai, Mexe, mexe mainha
Agora mexe, Mexe, mexe lourinha
Agora mexe, Mexe, mexe neguinha
Agora mexe Balançando a poupancinha. "
(Mexe, mexe, mainha – é o tchan)

Em 2001, a banalização e a forma de "conquistar" a sua TCHUTCHUCA é capturando na internet um BATIDÃO e mandando pra ela, por e-mail:
"Tchutchuca! Vem aqui com o teu Tigrão.
Vou te jogar na cama e te dar muita pressão!
Vem...
Vem Tchutchuca linda, senta aqui com seu pretinho vou te pegar no colo e ti fazer muito carinho... "

Em 2002 a forma de "elogio" baixa o nível, ele pára o chevetinho 81, rebaixado, e no mais alto volume solta o som:
"Abre as pernas, faz beicinho, vou morder o seu grelinho....
Vai Serginho, vai Serginho....
Abre as pernas, faz beicinho, vou morder o seu grelinho....
Vai Serginho, vai Serginho...."
Abre a boca num si ispanta, vô gozá na tua garganta...."

E o nível de "elogio" em 2003, piora ainda mais, ele oferece uma música no baile para a sua EGUINHA POCOTÓ:

Vou mandando um beijinho
Prá filinha e prá vovó
Só não posso esquecer
Da minha Eguinha Pocotó
Pocotó, pocotó, pocotó, pocotó
Minha eguinha Pocotó!
Pocotó, pocotó, pocotó, pocotó
Minha eguinha POCOTÓ...."

Em 2004, ele chama a MINA DESCONTROLADA para dançar no meio da pista:
“Ah! Que isso? Elas estão descontroladas!
Ah! Que isso? Elas Estão descontroladas!
Ela sobe, ela desce, ela da uma rodada, elas estão descontroladas!
Ela sobe, ela desce, ela da uma rodada, elas estão descontroladas!...”
Em 2005, ele resolve mandar um convite a mulher desejada para uma PEGAÇÃO no seu APÊ através da rádio:
Hoje é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar bunda lele!!!
Hoje é festa lá no meu apê, tem birita até ao amanhecer
Tesão, sedução, libido no ar
No meu quarto tem gente até fazendo orgia”

Em 2006, ele chama a MINA para curtir um baile ao som da música mais pedida e tocada no país:
“Tô ficando atoladinha,
tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha!!!
Calma, calma foguetinha!!!
Piriri Piriri Piriri, alguém ligou p/ mim,
Piriri Piriri Piriri, alguém ligou p/ mim !!!”

E mais se você pensou que aquela poderia ser a última do elogio baixo nível, mas já lançaram outra, onde ele chama publicamente a sua CACHORRINHA GOSTOSA para literalmente levar uma lapada na rachada:
“Vai da tapinha na bundinha
Vai que eu sou sua cachorrinha
Vai que eu to muito assanhada
vamos da uma lapadinha
só se for na rachadinha
E toma gostosa lapada na rachada
Você pede e eu te dou lapada na rachada
e ai ta gostoso? Lapada na rachada
Toma,Toma,Toma”


Reflitam homens e mulheres: nós como sujeitos históricos somos co-responsáveis por todas essas mudanças, se as mulheres hoje reclamam que gostariam de receber "elogios" mais doces em alguns momentos, a culpa também é delas, que se deixaram (des)valorizar. Claro ,que uma mulher gosta também de ser chamada de gostosa, faz bem pra auto-estima sexual, mas na cama, e não o tempo todo. Uma mulher no jogo cotidiano da sedução, ou durante a conquista certamente prefere ser chamada de minha linda, minha deusa, minha princesa, minha menina, há elogios que nunca serão antiquados, pois elevam a auto-estima humana. E esses elogios musicais usados para a caça a partir da década de 1990, são usados não apenas pelos homens não, mas também pelas mulheres (sem generalizar, claro) ainda, existem aqueles que, fazem parte dos seletos últimos românticos.
Mas hoje, grande parte deles, como já vimos anteriormente, saem mesmo, literalmente à caça da sua presa, e não mais saem à conquista, ou para seduzir, porque as pessoas não querem conquistar ninguém, porque conquistar implica em responsabilidade afetiva, em ter cuidado para não machucar, magoar, e as pessoas não querem conquistar, nem seduzir ninguém , querem apenas curtir o momento, querem apenas uma presa fácil, para devorarem. Não querem criar nenhum tipo de laço, seja de amizade, ou algo mais, não querem relacionamentos, querem momentos, querem contatos descartáveis, free, avulsos. E não se importam em quem estão caçando, ou com que tipo de peixe vai cair na rede, como muitos mesmo dizem: ah! Caiu na rede é peixe! Me desculpem mas eu acho isso uma barbaridade. As pessoas precisam ser mais exigentes consigo mesmas e com os peixes que caem na sua rede, rs alguns podem ter espinhos demais, outros já estão até podres, rs e eu já disse: Cuidado com o que você come! Pois, é você quem tem que digerir isso depois, rs e a digestão pode ser lenta e desagradável, rs.
Enfim, foi se perdendo o romantismo e pior, perdeu-se o jogo gostoso e saudável da sedução, dos olhares, dos toques. Onde primeiro o beijo era desejado, beijado antes com os olhos; onde o corpo era sonhado, tocado com primeiro com o olhar; quando, de fato, havia sedução.
E isso fruto da cultura mercantil, fruto de busca da liberdade que as mulheres procuravam, mas que por não e que se tornou libertinagem. Reflexo também do comportamento que a sociedade patriarcal machista condicionou ao homem, afinal em algumas culturas se o homem tratar a mulher com gentilezas e delicadezas, ele vai ser taxado de homossexual, o que é um absurdo e um equívoco como já abordei em outro post. Enfim isto reflete a sociedade, as mulheres e pessoas em geral não souberam passar da repressão à liberdade foram ao outro extremo, à libertinagem, à exacerbação, à banalização. Reflete ainda educação, a mídia que fez com que o sexo se tornasse produto. A mídia até mostra que sexo é bom, mas banaliza, mostra que é fácil, e não mostra a responsabilidade e a conseqüência disto: uma sociedade sexualmente doente e vazia, depressiva, pseudo-feliz, de pedófilos, psicopatas, etc. Onde muitas pessoas vivem pautada na ilusão de ser ter muitos parceiros, muitos amigos, mas a realidade é inversa, as pessoas estão cada dia mais solitárias, depressivas e podem contar nos dedos os verdadeiros amigos e parceiros incondicionais.
Essa falta de erotismo é que torna o ato sexual finito em si mesmo. Sem sedução cotidiana, sem erotismo não se constrói uma relação sexual e não se estende essa relação para um relacionamento mais durável, mais prazeroso e afetuoso, seja de amizade ou algo mais.
E não pense que eu estou aqui, defendendo aquela visão mitológico do amor romântico, do pára-todo-sempre-amém, não mesmo! Longe de mim, essas visões hegemônicas dogmáticas. Mas, estou falando de sentido, de significado. Que implica, não em amor eterno, mas em carinho, respeito, admiração, conquista, sedução, sensualidade, erotismo, que são, MUITO diferentes do jogo fácil, da vulgaridade, da banalidade, da perversão. Claro que, durante o ato sexual em si, entre quatro paredes, mesmo entre pessoas que se gostam, se respeitam, se desejam, que se admiram, há o momento do jogo animal, mais selvagem, de palavras mais picantes e agressivas, de fantasias mais quentes, o que neste momento sim, pode ser saudável, se ambos curtem. Porém, se a sedução se reduzir meramente à caça e se o ato sexual se reduzir somente à isso, a esse jogo picante e agressivo de palavras, ele também torna-se reduzido, diminuído, vazio, sem significado, sem sentido!
Consideramos essencial manter a sensualidade, o erotismo, a sedução, para que nossa a relação sexual seja plena, intensa, prazerosa e duradoura. Sendo assim, num próximo post vamos abordar os jogos de sedução e fantasias eróticas que podemos e devemos usar em nossos relacionamentos para manter acesa a chama do desejo e apimentarmos, darmos mais sabor à relação. Até lá!
Bem como esse post já rendeu um belo debate vou complementar e dizer que meu objetivo é de fato inquietar e fazer as pessoas pensarem. Mas é importante esclarecermos que este post baseado no slides que recebi, NÃO diz respeito às trilhas sonoras dos verdadeiros romances, dos relacionamentos afetivos vividos com as principais mulheres ou homens que passaram por nossas vidas, pois estas seriam as músicas românticas que renderiam outro post e certamente seria diversificaria entre MPB, Rock Nacional: Paralamas, Legião Urbana, Titãs, RPM e os sertanejos Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Gian e Giovani, entre outros... Posso falar disto num próximo post, ok?

3 comentários:

  1. Claudia, muito bom o seu texto... concordo, a maioria das coisas boas no relacionamento do ser humano foram deturpadas, viraram excessões!

    Parabéns, continue escrevendo! Adoro seu blog!
    Um beijo, Ana Paula!

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  2. Cláudia, uma vez mais o seu texto é provocador de transbordamentos (da alma, de conceitos, de sentimentos, etc,etc, rsrs).
    Mas, estive pensando... Por que será que todo esse romantismo foi perdido? Concordo pois, ambos, homem e mulher não querem mais "conquistar ninguém, porque conquistar implica em responsabilidade afetiva, em ter cuidado para não machucar..". E aí passamos, de comum acordo, a percorrer outros caminhos... Uma pena!

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  3. Adorei a colocação das idéias...me faz crer que sou um equívoco de épocas,aprecio o tempo em que se expressava a intensidade do desejo na sutileza de uma bela canção..meio que amante a moda antiga rss...no entanto pra alguns isso é dito como'careta' ainda sim prefiro a minha caretice romantica a vulgaridade moderna.
    Bjos Cláudia, parabéns!!

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