segunda-feira, 29 de março de 2010

Como e quando falar de SEXUALIDADE com crianças e adolescentes?

Consideramos inadequado utilizar o termo *falar de sexo com as crianças e adolescentes*, especialmente quando tratamos do tema no ambiente escolar, pois isso caracteriza um reducionismo do que de fato é Sexualidade. Aliás, é um equívoco pensar que vou na escola para falar de sexo, vou falar de sexualidade, que envolve nossa forma de ser e estar no mundo, e todos os prazeres da vida, seja o prazer de sorrir, de estar ao lado de alguém, de passear de mãos dadas, da troca de olhares, ou de olhar o mundo, de conversar com alguém, de abraçar, o prazer de um beijo, de um afago, o prazer de viver, aprender e se reconhecer como um ser humano com instintos, desejos, sonhos, expectativas, necessidades, vontades, mas dotado de razão e capacidade de fazer escolhas éticas e estéticas.

A sexualidade não pode ser tratada apenas como sexo. A sexualidade é a totalidade de nossos sentimentos, conhecimentos, interações, ou seja, dos relacionamentos que estabelecemos durante nossa vida desde que nascemos, pois ela é inerente ao nosso ser. E em cada época da vida ela vai se manifestando física e emocionalmente, despertando a curiosidade de conhecer a si próprio, de conhecer o outro. Uma curiosidade natural e saudável, que não deve ser estimulada, mas que jamais pode ser negligenciada.

Eu já disse e vou repetir: com as crianças o assunto deve ser abordado de acordo com as curiosidades individuais de cada uma delas, já a partir da adolescência podemos falar sempre coletivamente, utilizando a linguagem adequada.

É sempre importante ressaltar que, quanto mais se oculta, quanto mais se vela um assunto, mais curiosidade ele desperta. Por isso, pais e educadores devem sempre falar de sexualidade com a naturalidade que lhe é própria. Todos temos um corpo (feminino ou masculino) com suas características próprias, mas todas comuns aos seres humanos, então porque fazer ficar horrorizado ou envergonhado quando surge uma curiosidade sobre sexualidade.

A masturbação, por exemplo, é algo natural, que deve ser encarada com tranqüilidade pelos pais, conversando individualmente com seus filhos e explicando que a masturbação é um momento extremamente íntimo, que portanto diz respeito tão somente ao adolescente, o que significa que há espaços adequados e restritos para que ela ocorra.

Quanto mais se trata de maneira aberta, afetiva e respeitosa a sexualidade, mais tranquilamente as crianças e jovens vão apreendendo os conceitos as experiências, e estas serão determinantes na forma como, na idade adulta, a vivência da sexualidade será vivida e encarada. Sendo assim, pais e educadores devem lidar com o tema com naturalidade.

Eu sempre digo também que a criança aprende pelo gesto, pelas ações muito mais do que por palavras, portanto, ainda que, pensemos que não estamos tratando do assunto, estamos. Como assim? Como você lida diante dos seus filhos com questões como: Beijar seu companheiro na boca na frente deles? Abraçar? Fazer carinho? E mais você beija e abraça seus filhos? Você se troca na frente deles? Teria problema se ele entrassem no banheiro enquanto você toma banho? E por ai vai... Lembre-se, a forma como você trata o seu corpo, a sexualidade, os seus sentimentos podem ser decisivas na forma como seus filhos vão encarar a sexualidade deles. Se um corpo nu para eles é algo natural, não vão ficar preocupados em desvendar os mistérios do porque as pessoas escondem tanto seus corpos, vão encarar isso tranquilamente e saudavelmente.

Nós que criamos a maldade, quantas vezes já ouvi pessoas dizendo pras criança (não olha que feio estão se beijando você não pode ver). E entenda que uma coisa é um beijo afetivo e outra uma cena vulgar. Portanto, isso não significa deixar seus filhos verem filmes inadequados à faixa etária deles, nem ver as cenas absurdamente vulgares da TV, muito menos deixá-los acessar sites inadequados da internet, isso sim, tem que ser limitado, porque uma coisa é falar de sexualidade saudável e incentivar a sexualidade banal e quantitativa, reducionista dos modeles e estereótipos vinculados pela mídia e pela sociedade mercantilista . Não devemos jamais incentivar, mas não podemos de nenhuma forma negligenciar e deixar de orientar nossos filhos e alunos.

Vai meu alerta: quanto mais reprimimos o desenvolvimento da sexualidade das crianças e adolescentes mais estamos incorrendo num risco duplo e igualmente determinante, ou aguçamos uma curiosidade precoce ou podemos estar matando a possibilidade de uma sexualidade saudável na vida adulta, portanto a repressão é um mal em todos os sentidos. Devemos esclarecer sempre, de maneira adequada a cada idade e respeitando os limites da curiosidade da própria criança.

Lembrem-se ninguém pode entender o mundo, se não conhece a si. Se não entende e encara com naturalidade suas limitações, desejos, necessidades e possibilidades, pois, antes de sermos um ser no mundo, eu sou o mundo do meu próprio ser. Se não compreendemos nossa existência, a origem de nossa vida, o corpo que é nossa morada espiritual não conseguiremos nos desenvolver plenamente, nem compreender o outro e o mundo.

Importante ainda dizermos que, a sexualidade deve ser tratada sem preconceitos de qualquer ordem, sempre com seriedade, mas com naturalidade e responsabilidade. Falar de sexualidade com nossos filhos é também um ato de amor para com eles, especialmente em tempos onde a pedofilia tem se alastrado bruscamente, tornando mais que necessário alertar nossas crianças e adolescentes sobre a questão. É fundamental que crianças e adolescentes saibam como se relacionar com seu próprio corpo, justamente para evitar ou reconhecer uma possível violência sexual.

Portanto, pais e educadores, procurem entender e explorar melhor sua própria sexualidade, para que possam abordar sobre o tema com seus filhos, de maneira que eles se tornem adultos capazes de viver uma sexualidade saudável, afetiva, responsável, consciente e prazerosa.

E afinal: tem algo mais lindo do que ver a mãe e o pai da gente como dois seres que se amam, e tem  pelo outro carinho e cuidado de eternos  namorados, caminhando de mãos dadas ou abraçados?
No amor é natural e essencial gestos de carinho, compreensão e cumplicidade e este prazer e cuidado de amar, é também parte inerente da nossa sexualidade, e são estes gestos de sensibilidade que vão  vão enfeitanto a vida, fortalecendo nossos laços, nos humanizando e nos ensinando a ver que a vida e a sexualidade são intrinsecamente umbilicais, nos origimos porque nos amamos humanamente como os animais.



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