segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sexualidade e Educação Sexual



Precisamos colocar para quem não conhece nossa trajetória, que nossa reflexão sobre sexualidade e educação nasceu como necessidade de nossa práxis, ao buscarmos refletir sobre as dificuldades de nosso cotidiano escolar, tendo em vista melhorar nossa atuação docente e atentar para que, além de ensinar conteúdos programáticos possamos fazer com que estes possam ser analisados a partir das condições históricas e sociais, e possam além de informações biológicas trazer valores, significados e contribuírem para a reflexão e vislumbrando uma possível transformação da sociedade vigente. Além do papel de mãe de duas adolescentes inseridas numa sociedade sexualmente em crise de valores e significados, ainda enraigada nos preconceitos e dogmas sociais e religiosos, e da necessidade de compreensão da vivência de nossa própria sexualidade também são exigências que nos convidam e convocam para seu entendimento. E ainda por considerarmos que somos educadores, e temos, como consequência política, a tarefa de desenvolver projetos educacionais que se orientam por princípios democráticos e emancipatórios, articulados com os interesses sociais, buscando subsidiar projetos para a superação dos problemas sociais.

Diversas foram as situações vivenciadas em sala de aula diante das quais se sentiu uma lacuna em nossa formação e nos livros didáticos no tocante a Educação Sexual, visto que, o que os livros e as apostilas trazem como orientação sexual ou sexualidade parecem muitas vezes não passar de noções de anatomia e métodos contraceptivos. Os alunos, porém, almejam saber mais e, nos cursos de formação de professores, não há uma disciplina obrigatória que trate da sexualidade humana para além do enfoque biológico, que forneça aos docentes, e a futuros docentes, o embasamento teórico necessário para a compreensão da sexualidade como uma construção cultural, histórica, política e social, além do preparo didático para trabalharem a temática na escola.
Para definir o termo sexo recorremos À Guimarães (1995, p.23), que aponta que sexo refere-se “à diferença biológica entre macho e fêmea, incluindo diferenças da anatomia, da fisiologia, da genética, do sistema hormonal.” Ressalta ainda que sexo não pode ser confundido com gênero, embora estejam relacionados. Gênero “designa tudo o que caracteriza o “masculino” e o “feminino” na diferenciação entre o mundo do homem e o mundo da mulher: o físico, a anatomia, o vestuário, a fala, os gestos, os interesses, as atitudes, os comportamentos, os valores.”
Já para Souza (1991, p.15) “Sexo é um conjunto de pessoas que têm a mesma organização anátomo - fisiológica no que se refere à geração: masculino ou feminino.”
Partindo destas conceituações de sexo, poderíamos dizer que a escola fala de “sexo”, e não de sexualidade, pois a “Educação Sexual” na escola ainda se pauta pelos critérios da Biologia descritiva do século XIX, sem articular e resgatar a concepção histórica e cultural, sem estabelecer uma teia com a realidade, sem refletir ética e esteticamente sobre os valores, as transformações do mundo do trabalho e as descobertas científicas, oferecendo assim, poucas possibilidades para que seus educandos possam mudar consciente e concretamente a conjuntura atual. Pressupõe-se que a Sexualidade apresentada na escola apresenta ainda, uma identidade naturalista, positivista distante dos atuais paradigmas de compreensão do mundo, anacrônica e defasada.
Concordamos com Nunes e Silva (2000, p.73) ao afirmarem:
[...] Entendemos que a sexualidade é uma marca única do homem, uma característica somente desenvolvida e presente na condição cultural e histórica do homem [...] A sexualidade transcende a consideração meramente biológica, centrada na reprodução das capacidades instintivas [...] A sexualidade é a própria vivência e significação do sexo, para além do determinismo naturalista, isto é, carrega dentro de si a intencionalidade e a escolha, que a tornam uma dimensão humana, dialógica, cultural [...].

Sendo assim, podemos entender o sexo como a marca biológica, a caracterização genital e natural, constituída a partir da aquisição evolutiva da espécie humana enquanto animal. A sexualidade é um conceito cultural constituído pela qualidade e significação do sexo. Nesse sentido, somente a espécie humana ostenta uma sexualidade, uma construção social, uma qualidade cultural e significativa do sexo.

Para definir a sexualidade consideramos Nunes (1996) afirma que a sexualidade é uma área de saber e de investigação essencialmente complexa e polêmica, por envolver dogmas religiosos, valores éticos e estéticos, enfim a subjetividade. E nos aponta a necessidade de se fazer a superação da visão simplista, preconceituosa, moralista, equivocada, condicionada pela ideologia dominante, caracterizada pelo senso-comum.
Concordamos com Nunes e Silva (2000, p.73) ao afirmarem:
[...] Entendemos que a sexualidade é uma marca única do homem, uma característica somente desenvolvida e presente na condição cultural e histórica do homem [...] A sexualidade transcende a consideração meramente biológica, centrada na reprodução das capacidades instintivas [...] A sexualidade é a própria vivência e significação do sexo, para além do determinismo naturalista, isto é, carrega dentro de si a intencionalidade e a escolha, que a tornam uma dimensão humana, dialógica, cultural [...].

Já a Educação Sexual é, antes de tudo, uma prática ou ação de transmissão de conhecimentos, representações, valores e práticas, ou seja, é essencialmente uma forma de Educação. E como prática educacional é uma questão cultural, histórica e social, e seu entendimento é marcado pelas mudanças ocorridas no modo de produção basilar da sociedade e envolve, além da dimensão biológica, a subjetividade, a afetividade, a ética, o desejo, a religiosidade, entre outras dimensões. Ou seja, Educação Sexual é um processo educativo que possibilita a formação de valores e atitudes referentes à forma como vivemos nossa sexualidade.
Nesse viés, consideramos que a Educação Sexual pode contribuir, entre outros fatores, para a diminuição dos índices de gravidez na adolescência, a redução da transmissão entre os jovens de DSTs, e tornar o jovem conhecedor do que representa a sexualidade humana para si próprio e no contexto da sociedade brasileira. E ainda ressalta-se a necessidade de se esclarecer sobre os tabus e preconceitos existentes na sociedade, promovendo o respeito pela liberdade de expressão, de orientação sexual, e de se discutir os conceitos de puberdade, sexo seguro, aborto, opção sexual, abusos sexuais, violência, reconhecimento geral dos órgãos sexuais humanos e suas funções, sexo como reprodução e prazer.

A Educação Sexual que pleiteamos não se resume tão somente a um amontoado de noções de biologia, prescrições médicas de higiene e informações anatômicas, embora estas sejam extremamente relevantes, mas não suficientes. Pois acreditamos que a para entender a Sexualidade significa compreender o próprio ser humano em suas bases mais exigentes: natureza e cultura. Não que venhamos negar a fisiologia e a importância das determinações morfológicas naturais, campos que se traduzem em bases dos processos de significações culturais. A biologia, no entanto, tomada reducionistamente, apresenta-se insuficiente para explicar nossas vivências sexuais, não conseguindo dar conta da amplitude de suas manifestações, historicamente constituídas, o que acaba alijando a formação sexual das dimensões éticas e estéticas.

Amanhã continuaremos nosso diálogo abordando sobre Homofobia e Homossexualidade.






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você também pode gostar de:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...